Quando chega o fim do ano surgem os projetos:
emagrecer, fazer exercícios, segurar as compras. Para 2012 algumas pessoas
podem acrescentar outro: entender o que está acontecendo com a China. Quem
gosta de opinar sobre assuntos internacionais e acha que não precisa, pode
fazer um teste: liste cinco cidades chinesas e cinco políticos chineses vivos.
Tratando-se da segunda economia do mundo e do maior
parceiro comercial do Brasil, vale a pena. O problema é como começar. Na
primeira confusão entre Guangzhou e Fuzhou, ou entre Hu Jintao (o atual
presidente) e Xi Jinping (seu provável sucessor), a pessoa desiste. É duro,
mas, visto da China, o Brasil, onde Rousseff é Dilma e Guido é Mantega, também
não é fácil.
Para quem quiser remediar a lacuna, o livro
"Sobre a China", do ex-secretário de Estado americano Henry
Kissinger, é um bom remédio. Na realidade, são três livros num volume. O
primeiro é um passeio pela história e cultura do Império do Meio. Ensina coisas
assim: "Os chineses nunca produziram um mito de criação cósmica. Para
eles, o universo foi criado por eles". Essa civilização que se vê como o
centro do mundo passou por 150 anos de humilhações, com fomes e guerras que
consumiram 100 milhões de pessoas. Quem tiver saído dessa parte confundindo
Zeng Guofan com Wei Yuan, não deve se preocupar. No século 20 ficará mais à
vontade.
O segundo livro conta a essência da virada ocorrida
nos anos 70, quando Mao Zedong aproximou-se do Ocidente. Como Kissinger foi um
personagem relevante nesse jogo, sua narrativa é rica, até quando reconhece
seus erros, produzidos pela ignorância. Por exemplo: como os vietcongs jamais
se renderiam, eram invencíveis e Mao falava sério quando dizia que não tinha
medo de uma guerra nuclear.
A terceira parte de "Sobre a China" é a
mais valiosa. Kissinger, que fez mais de 50 viagens a Pequim, constrói um
cenário no qual a incompreensão do Ocidente e o nacionalismo chinês serão
fatores de futuras tensões. Quando o companheiro Obama vai à Ásia acertar
alianças estratégicas e militares, sabe que estimula o receio do Império do
Meio de se ver cercado pelos "demônios estrangeiros".
Ao final do livro, como um mandarim, Kissinger
lembra a situação europeia de 1907, quando um diplomata inglês fez um trabalho
sobre as relações com a Alemanha. Nessa época, os dois países eram grandes
parceiros comerciais, e tudo o que o kaiser fazia era visto em Londres como uma
ameaça estratégica. Em Berlim havia o mesmo sentimento em relação aos ingleses.
Sete anos depois, começou a Grande Guerra. Kissinger apresenta esse risco com
extrema cautela. Seu interesse é mostrar que existe o perigo do "desfecho
infeliz".
Você pode baixar e ler o 1° capítulo AQUI, no sítio da Editora Objetiva.
Você pode baixar e ler o 1° capítulo AQUI, no sítio da Editora Objetiva.
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