No
dia 5 de novembro de 1911, Pernambuco assistiu a uma das eleições mais
acirradas de sua história, com a disputa entre o general Dantas Barreto e o
conselheiro Rosa e Silva, que controlava a política estadual há dezesseis anos.
Rosa e Silva formou-se advogado pela Faculdade de Direito do Recife e construiu
a sua carreira política na última década do império pelas mãos do conselheiro
João Alfredo, de quem chegou a ser ministro da justiça, servindo ao gabinete que
apresentou e aprovou o projeto da abolição da escravidão. Convertido à
república, criou o Partido Republicano em Pernambuco e foi eleito vice-presidente
de Campos Sales no período 1898/1902. Construiu uma hegemonia inconteste sobre
a política estadual, onde indicou e elegeu quatro governadores: Correia de
Araújo, Gonçalves Ferreira, Sigismundo Gonçalves e Herculano Bandeira. Em 1901,
Rosa e Silva comprou o Diário de Pernambuco, que ao mesmo tempo em que serviu à
consolidação de sua influência, abrigou um grupo de jovens colaboradores que
teriam papéis relevantes na cultura e política nacional nas próximas décadas, a
exemplo de Gilberto Freyre e Assis Chateaubriand.
A
eleição do marechal Hermes da Fonseca para a presidência em 1910, entretanto,
mudou as relações entre a presidência e os estados, já que aquele alimentava o
projeto de centralizar o poder e reduzir a força das oligarquias, ‘salvando’ os
estados do atraso que estas representariam. Sua política ‘salvacionista’
provocou conflitos, intervenções e substituições de vários grupos políticos
pelo país nos dois anos seguintes. Aqui, o general Dantas Barreto, natural de
Bom Conselho e veterano de Canudos, vislumbrou a oportunidade de disputar o
governo depois que foi nomeado Ministro da Guerra, passando a ser o depositário
das esperanças de vitória das oposições. A candidatura de Dantas ganhou as ruas
e forçou o conselheiro a disputar pessoalmente as eleições. Na campanha
dantista, viagens pelo estado, comícios, o envolvimento das classes médias e
populares com promessas de mudanças políticas e econômicas. Na defensiva, a
tática rosista envolveu manobras políticas no melhor estilo da Primeira
República. Rosa e Silva orientou a renúncia do governador Herculano Bandeira, provocando
a posse de Estácio Coimbra no comando do estado e a antecipação do pleito, reduzindo
o tempo da campanha.
Consumada
a eleição, Rosa venceu por uma margem de cerca de mil votos, mas foi derrotado
em Recife. Como era comum, seguiu-se a batalha pelo reconhecimento dos
resultados na Comissão Verificadora de Poderes, formada por deputados e com o
papel de confirmar a licitude das apurações e resultados. Dantas não acatou a
derrota e denúncias de fraudes corriam de lado a lado, mas o controle da
máquina política por Rosa e Silva deveria garantir a ratificação dos resultados.
Seguiram-se vários episódios de violência pelo estado, inclusive com o
empastelamento do Diário de Pernambuco. Apoiados pelo presidente da república,
pelo exército e grupos populares, os dantistas tomaram o Recife. Estácio
Coimbra, sem condições de resistir, retirou-se para seu engenho em Barreiros. No
dia 18 de dezembro, uma Assembleia Legislativa com apenas um terço dos seus representantes
efetivou o reconhecimento das eleições, anulando diversas urnas, invertendo os
números e dando a vitória a Dantas Barreto, que tomou posse como novo
governador.
Histórias interessantíssimas da política brasileira... um memorável período de acirradas disputas oligárquicas na história do Brasil.
ResponderExcluirAbraços! :-)