Os
números do censo que detalham o quadro religioso no Brasil foram divulgados e
comprovam o que já se percebia, que é a consolidação de um país mais plural do
ponto de vista da fé. Assim, reforça-se a necessidade de uma convivência
respeitosa entre as religiões, que é um princípio moral, mas também, legal,
inscrito na constituição. O censo também detalha informações sobre o perfil
educacional dos grupos religiosos. Os evangélicos, de forma geral, e em
especial aqueles das igrejas de missões (batistas, presbiterianos, luteranos,
anglicanos, metodistas) são bastante escolarizados, entre 20 a 48% estão entre
o ensino médio e superior concluídos; não somos, portanto, ignorantes ou
alienados, o estereótipo preferido pelas novelas globais. Não é muita surpresa,
pois nossas igrejas possuem uma importante obra social no Brasil e em
Pernambuco, e talvez a mais visível delas seja as nossas escolas, em especial o
Americano Batista e o Colégio Agnes, em Recife, e o XV de Novembro, em
Garanhuns, para falar só dos maiores. No passado, muitos evangélicos foram
abolicionistas e republicanos. Temos algumas das mais competentes agências de
ação social, como a Visão Mundial e a Diaconia. Centenas de nossas igrejas
possuem creches, auxiliam a educação secular, e outras tantas colaboram com
prefeituras e governos na formação profissional, na recuperação de drogados, e
assistem aos mais desvalidos da sociedade. Todas as igrejas de missões e a
maioria das pentecostais formam seus pastores em seminários, onde se cursa
teologia e dezenas deles seguem sua formação com mestrados, doutorados e outros
cursos. Há inúmeros pastores professores, advogados, psicólogos, engenheiros,
filósofos, sociólogos. Também não somos intolerantes. Fomos e somos defensores
da liberdade religiosa, pela qual fomos também responsáveis por sua inscrição na
constituição.
Portanto,
quando o termo 'evangélicos' é usado para nomear a autoria de uma suposta
tentativa de invasão de um terreiro, em Olinda, isso é muito genérico e incita
o preconceito tanto quanto qualquer fanático possa fazer em relação ao
candomblé. Igrejas evangélicas não fariam algo assim. Cristãos que somos,
cremos em um único Deus, e em Jesus Cristo como o próprio Deus encarnado, morto
e ressuscitado, para que fôssemos remidos de nossos pecados. Cremos que todos
devem ouvir estas boas novas, mas tal pregação e a sua aceitação não pode ser pela
força nem imposta. Respeitamos e nos batemos vigorosamente pelo direito individual
de liberdade de religião. Defendemos a separação entre Estado e Igreja e não
somos adeptos de Estados teocráticos. Criar manchetes assim é cometer o mesmo
erro que os dirigentes de terreiros reclamam que incide contra si, quando afirmam
que é injusto atribuir os recentes assassinatos de crianças aqui e alhures, a
pessoas que seriam pais de santo. De acordo com eles, isso promove a
intolerância e a violência contra os terreiros e estão mesmo a exigir que a
polícia não trate os assassinos por ‘pais de santo’, para evitar tal associação.
Ora, os depoimentos sobre o caso do terreiro, feitos pelos líderes de candomblé
aos jornais, tomaram o todo pela parte, e acusaram ‘os evangélicos’ de
atentarem contra a liberdade religiosa.
Sobre
as matérias na imprensa, não ouve informação sobre 'o outro lado'. Além de não
especificar qual a igreja que, segundo o pai de santo, teria feito a passeata ao
terreiro, os leitores restaram sem saber quem eram os líderes do grupo e sua explicação
para o que ocorreu. Mas, há algo mais sério. As notícias não condizem com as
imagens do vídeo que lhe serve de base, onde não se vê ninguém invadindo ou atacando
alguém no terreiro. Se houve um ataque físico ou discursivo, isto não está no
trecho que foi divulgado. Ainda há tempo, entretanto, de restabelecer o
contraditório, ouvir as outras partes, examinar tudo com calma e fugir do lugar
comum do 'evangélico intolerante'. Ainda há tempo de denunciar o excesso de
quem quer que tenha cometido abuso ou violência, de denunciar qualquer violação
de direitos individuais ou religiosos, e fazer uma cobertura sem vitimizações e
sem a eleição prévia de heróis.
Caro Cláudio Roberto de Souza.
ResponderExcluirLi esta sua postagem e admiro profundamente sua sensatez. Concordo que pareceu um ato desmedido de minha parte, porém, estivesse qualquer um em meu lugar (ante a tanta gente literalmente berrando palavras de ordem contra aquele ato de fé que se dessenrrolava naquele Candomblé)teria agido da mesma forma. Alguém pode dizer: "bom, pq não chamou a polícia no início do ato?" Ora, talvez pq minutos antes a polícia tenha estado lá e adentrado o lugar sob a denúncia de q um adolescente estava sendo sacrificado! Estranha coincid~encia, não?! Bom, de toda forma, qdo disse no vídeo q se tratava de "evangélicos", não houve nem exagero nem mentira da minha parte. Na entrevista q dei ao Jornal do Comerccio On-line, tive a procupação de separar o trigo do joio, ao afirmar que não cria q cristão verdadeiros agissem assim; e por cristão verdadeiro (embora não esteja nas minhas mão o julgar quem quer que seja) classifiquei os evangélicos históricos citando as denominações mais próximas como, assembléia de deus, Presbiteriana, congregacional, Batista e etc. Bom, se não fiz mais, foi por esquecimento e não por descaso, e se fui destemperado em algum momento, não foi por ódio religioso mas sim por defesa da intergridade física e moral dos meus irmão e sob o calor da emoção do momento. Hj estou aqui sofrendo os piores ataques do mundo! parece q TODOS OS EVANGÉLICOS do bairo estão com vontade de ouvir música no mais alto volume do mundo! Vizinhos colocando seus hinos como njnca fizeram antes, bicicletas de som paradas em minhas duas esquinas, carro de som passando para lá e para cá incessantementi e etc. Fazer o q né?! Parece q cada uma quer da sua própria posição de como agria 9ou deveria agir) o senhor jesus numa hora dessas! Qto à (suposta) generalização efetuado por mim, descupe amigo, mas creio q quem deveria começar a fazer essa separação é a Igreja de Cristo e não eu. Esse não é o meu papel! Vou lhe fazer algumas perguntas simples, sem discutir teologia mas apenas fatos: a. Vc conhece algum templo com a nomeclatura (arg) "casa-de-encosto"? b. Conhece algum sacerdote ou sacerdotisa que se auto classifique como "mãe ou pai-de-encosto"? Algum "filho-de-encosto"? Ou mesmo uma entidade que seja que reivindique o título de "encosto"? Certamente que não! mas, como partícipe de uma Igreja Cristã, vc bem q tem assistido (várias e várias vezes) agumas "ditas igrejas evangélicas" assim o fazerem, não é?! e aí?! Qual tem sido sua postura ante tal?1 Em que momento vc (ou sua Igreja) veio a público a fim de deixar claro q vcs não compactuam com esse acintoso e deplorável expediente?! Bom, então repense suas considerações ao se sentir "generalisado"! Para finalizar, deixo um último questionamento pára reflexão minha, sua e de quem quizer se apropriar: ao que me parace, dentro da realidade dele, a postura do Bom Samaritano não foi a omissão, concorda?!
Axé odara a ti e a todos os teus!
Atenciosa e respeitosamente,
Érico Lustosa
(érico d' Xorokê)
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ResponderExcluirCaro Prof.Cláudio, demais leitores:
ResponderExcluirEsse pequeno debate tem muita importância. A questão da tolerância religiosa perpassa muitas áreas da vida. Misturar práticas cúlticas de religiões africanas com "cultura afro" é uma delas.
A influência e contribuição dos africanos para o Brasil e sua cultura é inegável. Ela se estende à língua, à culinária, à moda e etc. Porém, ainda que entendamos que a religiosidade esteja inserida na questão cultural, não podemos, em hipótese alguma, considerar suas práticas específicas como uma "mera expressão cultural" ou ainda como "cultura afro ou dos negros". É o que muitas vezes advogam os militantes da causa Afro no Brasil. O candomblé, por exemplo, não pode ser considerado como algo eminentemente cultural, como querem. É uma religião específica com todos os pressupostos específicos das demais religiões.
Portando, quero ter o direito de dizer que não concordo com suas prátias cúlticas; que na visão bíblico-cristã são práticas pecaminosas, sem com isso estar, de alguma forma, atentando contra a "cultura" dos africanos e dos negros. A impressão que passa, nessa defesa apaixonada, é que todo negro é adepto das práticas cúlticas específicas das religiões de matriz afro. Claro que não são. Existem negros evangélicos, judeus, budistas, muçulmanos, etc. Assim também como lhes dou todo o direito de discordarem da minha fé e das minhas práticas cúlticas.
Tolerância religiosa não significa que eu tenha que aceitar as práticas e as crenças das outras religiões, como se fosse possível, na prática, a lógica do terceiro incluído. Ela significa, tão somente, que eu devo respeitar e assegurar que o mesmo espaço de liberdade religiosa que eu quero para mim devo também reconhecer para outras crenças.
Assim como o Prof.Cláudio, também sou radicalmente contra aos abusos e intolerância religiosa, dos dois lados. Vou além: sou contra a pregação de qualquer crença em espaços públicos como ônibus e metrôs, por exemplo.
A título de provocação, gostaria de convidá-los a opinarem em nosso post, sobre esse tema, intitulado "Sou um racista assumido", em:
http://filosofiacalvinista.blogspot.com.br/2012/01/sou-um-racista-assumido.html
Prezado Fábio, perfeita a sua posição sobre o alcance da liberdade religiosa. Muitos tomam a expressão como se cada religião houvesse de concordar com os pressupostos doutrinários, com as bases de fé da outra. Nada mais distante da ideia de liberdade religiosa do que isso.
ResponderExcluirA liberdade de crença passa pelo menos pelos seguintes aspectos:
1) o direito de organizar meu espaço religioso sem interferência do Estado;
2) o direito de proclamar as bases de minha fé para outrem;
3) o direito do outro trocar de religião (o que significa que pode ser para a minha e também da minha para a do outro), sem que isso implique em perseguição política ou de qualquer outro tipo.
Estes três pilares estão corretamente expressos na declaração que ilustra esta postagem.
Ao Érico, eu fico muito tranquilo em conseguir responder sobre o que minha igreja faz contra os extremistas (o que não significa que tenhamos 100% de perfeição). No caso específico da Igreja Presbiteriana do Brasil, há uma resolução do órgão máximo de condução das igrejas que recomenda que pessoas que chegam em nosso convívio oriundas da Universal e semelhantes precisam passar pelas nossas salas de Escola Bíblica que são destinadas aos novos irmãos na fé como se assim o fossem. O que na prática significa que pelos códigos internos de compreensão sobre o processo de conversão, de decisão de seguir a Deus, de educação do neófito, estas organizações religiosas não são consideradas estritamente evangélicas. Os batistas também tem resoluções semelhantes.