Governadores
e prefeitos que governaram movidos apenas pela frieza dos números nunca tiveram
uma boa relação com o patrimônio histórico. O Recife já assistiu a várias reformas
urbanas promovidas em nome do progresso, mas ao preço da destruição de
exemplares significativos do patrimônio que testemunha o passado de sua gente. Mas,
foram reformas que logo se tornaram inócuas, posto que em curtíssimo prazo suas
benesses eram tragadas pela velocidade da mesma modernização que pretendiam
enfrentar. Na década de 1910, a reforma do porto demoliu mais de uma centena de
prédios em várias ruas próximas à atual Praça Barão do Rio Branco, o Marco
Zero, incluindo a Igreja do Corpo Santo e os arcos de entrada da cidade. Em
1944, sob a ditadura do Estado Novo e da mística dos ‘prefeitos-técnicos’, a
abertura da Avenida Guararapes fez tombar a Igreja do Paraíso. Na década de
1970, o prefeito nomeado, Augusto Lucena, promoveu a demolição da Igreja dos
Martírios, referência cultural para a comunidade negra e a história da
escravidão. No templo, congregaram-se negros e pardos desde o século 18 e nele
se reuniram abolicionistas nos oitocentos.
Novamente,
a cidade se depara com a necessidade de reformas que deem conta de soluções
para os problemas de transporte. A cidade e a economia cresceram, a população multiplicou.
Ninguém desconhece os problemas das grandes metrópoles. Mas, não mais que de
repente, o governo estadual descobriu a solução para todos os males do
trânsito: construir viadutos em todos os lugares é o mantra do momento. É uma
ideia que parece resolver o caos do trânsito, além de ser uma obra bem visível,
que dá a impressão de se ter um governo operoso, além de produzir excelentes imagens
para as eleições. Entretanto, no caminho dos viadutos propostos para a Av. Agamenon
Magalhães está o conjunto paisagístico do Parque Amorim, composto pelo Clube
Português, pela Igreja Batista da Capunga, e uma área comercial e residencial
densamente ocupada.
O
belíssimo prédio da Igreja Batista da Capunga, construído na década de 1930 e é
uma testemunha da riquíssima história do protestantismo de missão em terras
pernambucanas e do povo batista em particular. A desinformação sobre os
detalhes técnicos do projeto impõe a severa dúvida sobre o destino não apenas do
templo, mas também do Clube Português, importante marco cultural para a colônia
lusitana em Recife. Além das perdas culturais advindas da possível demolição destes
monumentos, há os materiais, de quem terá sua residência obstruída pelas alças
e pelo concreto dos elevados, acrescentando-se ainda, que os espaços de
convivência da região serão reduzidos a quase nada, tal qual ocorre no entorno
dos outros viadutos existentes na Agamenon. Diversos cidadãos, empresas,
engenheiros, e organizações sociais já se mostraram insatisfeitos com o projeto
e tentam discutir alternativas com o governo.
Não
deixa de ser irônico que, justamente em Pernambuco, onde sucessivos governantes
inflam o sentimento nativista, qualquer projeto modernizador baste para destruir
o patrimônio histórico da cidade. Martins de Barros, Antonio Novais Filho, Augusto
Lucena foram prefeitos que conduziram reformas urbanas em que a história da
cidade foi posta ao rés do chão em nome da modernidade. Em suas épocas, podem ter
parecido vitoriosos, mas a história, esta que lembra o que outros querem
esquecer, retoma sempre os seus nomes.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue me perdoem os historiadores, mas não sou muito a favor da preservação de "prédios velhos". Querem preservar "prédios velhos" tombados? Que tal fotografar, criar um museu virtual aberto à visitação publica e arquivar lá?
ResponderExcluirOutro dia alguns amantes da "velharia" estavam fazendo o maior barulho em defesa de alguns "galpões velhos" de utilidade duvidosa e obsoleta, no Cais de Santa Rita.
Sinceramente, não seria bem melhor demolir aquele monte de "lixo vertical" para dar lugar a novas construções, galerias, centros culturais modernos, etc, etc?
Claro que não é o caso da Igreja Batista da Capunga, que é um belíssimo e até moderno prédio, apesar de ter sido construído em 1930. Mas, mesmo assim, se a obra proposta tiver seu benefício comprovado, para a população Recifense? Devemos preservar o prédio original? Penso que não, necessariamente.
Ora, meu caro, outras igrejas já mudaram de endereço mediante uma "gorda indenização", a exemplo da 1ª Igreja Presbiteriana do Recife, que negociou em cifras milionárias seu antigo prédio com o hospital Santa Joana.
É só o governo pagar o preço do progresso, negociar um bom espaço para a Igreja Batista da Capunga e pronto; rumo ao futuro!!!! Prédio de igreja não tem status canônico. Chega de prédio "veio"...rs. Tira foto, põe no museu virtual e já era!
Tudo de bom!