Ganhar eleição no Recife, no período democrático
depois de 1945, não era fácil. O voto renhido e sem dono da capital, já
derrotou o próprio Agamenon Magalhães em 1950, que governou o estado durante os
oito anos da ditadura Vargas e apresentava-se como sensível às questões
sociais, através da defesa da legislação trabalhista e do programa de remoção
de palafitas e mocambos, construindo vilas operárias e conjuntos habitacionais.
Agamenon escreveu em seu jornal: “Fiz tudo pelo Recife, hoje ela me abandona. É
minha cidade cruel”. Relembremos alguns momentos desse voto arredio.
Em 1947, Barbosa Lima Sobrinho foi o candidato do PSD,
de Agamenon, ao governo, na primeira eleição depois da ditadura do Estado Novo.
Ganhou no estado por 500 votos sobre o principal adversário, o candidato da UDN,
Neto Campelo. Em Recife, entretanto, o vitorioso foi Pelópidas Silveira,
candidato pela coligação Esquerda Democrática, e apenas o terceiro lugar no
estado. Pelópidas era professor, engenheiro e político, e obteve 56% dos votos
da capital. Em 1950, Agamenon disputou pessoalmente o governo e venceu o
candidato da UDN, João Cleofas, também por uma margem apertada, mas perdeu a
eleição na capital por três mil votos. Em 1952, a morte de Agamenon em 24 de
agosto, no exercício do mandato, levou a uma nova eleição. Etelvino Lins, que foi
o seu secretário de segurança durante o Estado Novo, venceu a eleição por larga
vantagem, reorganizando em torno de si a máquina eleitoral do PSD. Etelvino
derrotou, no estado, ao candidato do PSB, Osório Borba, por 211 a 57 mil votos,
mas, foi derrotado em Recife pelo mesmo Borba, que recebeu 36 mil votos contra
30 mil de Etelvino. Em 1954, outra eleição apertada para o governo, com
Cordeiro de Farias, apoiado pelo PSD, vencendo João Cleofas no estado por apenas
4% dos votos. Em Recife, a máquina governista do PSD restaria novamente
derrotada.
Em 1955, a “cidade cruel” mostrou que estava mesmo era
desejosa de reformas na velha ordem política e nas questões sociais. Na
primeira eleição para prefeito na história do Recife, Pelópidas Silveira,
político já experiente, foi eleito com 81 mil votos contra 40 mil de todos os
seus adversários somados. Em 1958, Cid Sampaio, candidato da UDN ao governo
estadual, derrotou, finalmente, os velhos senhores do PSD com 100 mil votos de
vantagem, mas a maior parte dessa vitória deveu-se ao Recife, onde venceu com
larga margem de 92 mil votos. O segredo da vitória de Cid na capital foi
escolher o próprio Pelópidas para ser o seu candidato a vice-governador. A primeira
derrota sofrida pelo PSD no estado levava a aliança de centro-esquerda ao
Palácio do Campo das Princesas. Em 1959, Miguel Arraes foi eleito prefeito da
capital e em 1962, governador. Ele venceu João Cleofas, derrotado pela terceira
vez para o governo estadual, por apenas 2,5% de votos. O Recife foi decisivo
para a vitória, pois 58% dos seus votos foram para Arraes.
O período democrático entre 1945 e 1960 foi marcado
pela industrialização, pelo crescimento demográfico e do número de eleitores. O
Recife foi de 400 a 800 mil habitantes e o eleitorado, de 60 a 170 mil
votantes. As velhas oligarquias não estavam preparadas para estes novos tempos,
marcados por um eleitorado livre, que exigia reformas sociais e políticas. A cidade
foi cruel para todos que a queriam dócil e submissa.
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