domingo, 17 de abril de 2011
Joaquim Cardozo e o Diário de Pernambuco, por Fernando da Cruz Gouveia.
O ano de 1914, ano dramático para a humanidade, envolvida pela primeira guerra de feição mundial, começou no Recife com o reaparecimento do Diario de Pernambuco, depois do selvagem e covarde empastelamento perpetrado em 1912 por elementos dantistas em represália pelo engajamento do jornal na campanha política do seu proprietário, Rosa e Silva, acusado por um cínico inquérito policial de responsável pela depredação que teria sido efetuada pelo pessoal do seu matutino.
Carlos Lyra, o novo diretor, restaurou as instalações e procurou dar ao jornal uma moderna feição gráfica, inclusive cuidou de atrair bons colaboradores e jornalistas de nível, daí o convite feito a Jáder de Andrade, então diretor de A Serra, de Timbaúba, para exercer o cargo de redator-secretário do Diario. Entre as inovações introduzidas, Jader de Andrade encarregou-se de fazer em prosa e versos bem humorados comentários sobre os acontecimentos, e para melhor espelhar as pessoas que eram notícias, ele reservou espaço na primeira página para desenhistas atualizados com os fatos do dia. O primeiro deles seria Joaquim Cardozo, então um jovem de 17 anos de idade, que cursava o Ginásio Pernambucano e se preparava para ingressar na Escola de Engenharia.
Em conversa entretida no apartamento da rua Constante Ramos, em Copacabana, onde residia o poeta-engenheiro, o autor destas notas ouviu de Cardozo recordações sobre a política pernambucana no tempo de Dantas Barreto e Manuel Borba, que ele testemunhara com olhos bem abertos de jovem que acompanhava a realidade que o cercava. Muita coisa daquelas frequentes conversas, o autor destas notas revelou no artigo publicado no Diario em 3 de dezembro de1978.
Joaquim Cardozo iniciou sua colaboração no Diario de Pernambuco no domingo, 22 de fevereiro de 1914, com uma charge intitulada “Le roi s'amuse”, em que aparecia o presidente Hermes da Fonseca vestido de Arlequim, bem a propósito, porque era tempo de carnaval. Sucederam-se as charges, e na edição da tarde do dia 26 de julho, Cardozo fixou Estácio Coimbra, sempre elegante, que regressara do Rio de Janeiro a bordo do navio inglês “Astúrias” e fora festivamente recebido no Recife. “Dr: E. C.”, era o título da ilustração, acrescida de versinhos de Jáder de Andrade. Ao jornal, que procurava ouvi-lo, Estácio deu respostas evasivas, apenas segredou ao repórter: “Fui chamado...”
Jáder de Andrade logo deixaria o Diario, e Cardozo acompanhou-o, suspendendo a sua colaboração para o matutino da Pracinha. Todavia, o jovem estudante não abandonaria de todo o desenho, arte em que ao longo da vida ele seria tão “bissexto” quanto na poesia, como quer Manuel Bandeira.
Fernando da Cruz Gouvêa
Historiador
opiniao.pe@dabr.com.br
ARTIGO PUBLICADO NA SEÇÃO OPINIÃO DO DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 17/04/2011
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Cláudio,
ResponderExcluirgostei muito de ter reencontrado você no aniversário dos 100 anos de sua amada avó Adélia.
O tempo que passei ao seu lado foi muito proveitoso, uma aula excelente sobre a história da nossa região.
E quanto a este artigo postado no Diário de Pernamubco, vou salvá-lo nos meus arquivos especiais referentes à memória de Timbaúba.
Um abraço, direto da nublada manhã timbaubense.
Daslan Melo Lima