terça-feira, 26 de julho de 2011

Fábrica da Fiat em Goiana será oficializada pelo governador.


Terça-feira, 2 de agosto. Anote na agenda. A data foi escolhida pelo governador de Pernambuco para anunciar a implantação da fábrica da Fiat em Goiana, como antecipou com exclusividade o Diario de Pernambuco. Fontes do governo confirmaram ontem que Eduardo Campos (PSB) reservou a data para fazer “um grande anúncio”. Goiana ofereceu condições ideais para a construção da segunda fábrica da Fiat no país.

A unidade industrial ocupará um terreno de 12 milhões de metros quadrados entre as usinas de São José e Santa Tereza. No local também serão construídos os galpões que fazem parte do plano de desenvolvimento e engenharia dos produtos e do campo de provas da montadora.Na divisa com a cidade pernambucana, os paraibanos também terão motivos de sobra para comemorar o investimento. Serão aproximadamente 60 sistemistas (fábricas dos fornecedores da cadeia produtiva) que vão compor o novo polo automotivo do Nordeste e parte deles em solo da Paraíba.

A Mata Norte nascerá como nova força econômica para Pernambuco. A PPP (Parceria Público Privada) permitirá a construção do centro logístico de Goiana como um dos responsáveis pela multiplicação do segmento automotivo da região encabeçado pela Fiat. Nascerá na região o polo ecologístico que permitirá o surgimento de um porto, de estradas e um aeroporto local A Fiat poderá se comunicar com outros investimentos dos sistemistas que também ficarão ligados ao Litoral Sul através do Arco Metropolitano, PPP que vai gerar uma rota alternativa à congestionada BR-101.

As cartas consultas do BNDES, Sudene e Banco do Nordeste foram aprovadas para liberar os investimentos, que ultrapassam a casa dos R$ 3 bilhões só do caixa da montadora e alcançam o valor total dos R$ 7,17 bilhões. No dia 7 de julho, o Diario revelou que a troca do complexo portuário de Suape pela cidade de Goiana se deu por questões técnicas. Revelamos que a montadora precisava de um platô aproximado de 10 metros (9 metros são suficientes) de profundidade para instalação das prensas e da drenagem dos resíduos gerados pelas máquinas e de mais espaço logístico.

A fábrica ecologicamente correta precisava de mais espaço. O governo, com a mudança da planta, deixou de gastar R$ 200 milhões necessários para preparar a terraplenagem da área de Suape, duas vezes e meia menor (4,4 milhões de metros quadrados) que o terreno de Goiana. O valor economizado será investido na obra da infraestrutura logística e do novo porto de Atapuz, vizinho a praia de Pontas de Pedra.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 26/07 (para assinantes)

sábado, 16 de julho de 2011

A insensatez dos republicanos nos EUA: Beirando a loucura, por Paul Krugman.

Neste final de semana o governo dos EUA discute com a oposição os termos de um pacote econômico que é a condição para o pagamento de dívidas que vencem na próxima semana. Os EUA levando pito da China, exortados a pagarem em dia seus compromissos! O artigo abaixo, de Paul Krugman, nobel de economia e colunista do New York Times, trata do assunto. Até colunistas insuspeitos, sempre deslumbrados com as coisas dos 'States', escrevem hoje sobre os riscos do calote estadunidense, como é o caso de Miriam leitão, cujo link segue também abaixo.



Beirando a loucura

Não há muitos aspectos positivos a destacar na chance de um calote da dívida dos EUA. Mas assistir a tantas pessoas que estavam em estado de negação farejando a loucura no ar encerra algo de alívio cômico de humor negro.

Vários comentaristas parecem chocados com o grau de insensatez dos republicanos. "O Partido Republicano enlouqueceu?", eles indagam. Sim, enlouqueceu. Mas não é algo que tenha acontecido a partir do nada, é o ponto culminante de um processo que vem se desenrolando há décadas.

Qualquer pessoa que se espante com o extremismo e a irresponsabilidade exibidos agora ou não vem prestando atenção, ou vem fazendo vista grossa de propósito.

E àqueles que agora se angustiam com a saúde mental de um de nossos dois partidos políticos principais: pessoas como você têm responsabilidade pelo estado em que esse partido está.

O presidente Obama se dispõe a assinar um pacto para a redução do deficit que consiste em cortes de gastos, incluindo cortes draconianos em programas sociais fundamentais, como a elevação na idade mínima que dá direito ao Medicare. São concessões extraordinárias.

Mesmo assim, os republicanos estão dizendo "não", e ameaçam impor um calote dos EUA e criar uma crise econômica, a não ser que consigam um acordo unilateral.

Se um republicano tivesse conseguido arrancar o tipo de concessões sobre o Medicare e a Previdência Social que Obama oferece, isso teria sido uma vitória conservadora.

Mas, quando essas concessões vêm acompanhadas de aumentos pequenos na receita e partem de um democrata, as propostas viram planos inaceitáveis para afogar a economia americana em impostos.

Para além disso, a teoria econômica vodu tomou conta do Partido Republicano. O vodu "supply-side" -segundo o qual as reduções de impostos se pagam e/ou que qualquer elevação nos impostos levaria ao colapso econômico- tem força dentro do Partido Republicano desde que Ronald Reagan aderiu ao conceito da curva de Laffer.

Antes, contudo, o vodu era contido. O próprio Reagan promulgou aumentos importantes de impostos, contrabalançando cortes iniciais.

Até mesmo a administração de George W. Bush evitou afirmações extravagantes sobre a magia das reduções de impostos, pelo medo de que isso levantaria dúvidas quanto à seriedade da administração.

Recentemente, contudo, a contenção voou pelos ares -na realidade, foi expulsa do partido. No ano passado, Mitch McConnell, líder da minoria no Senado, afirmou que os cortes de impostos feitos por Bush haviam levado a um aumento da receita -o que contrariava completamente as evidências-, declarando que essa era "a visão de praticamente todos os republicanos".

E é verdade: mesmo Mitt Romney, visto por muitos como o mais sensato dos cahttp://www.blogger.com/img/blank.gifndidatos à Presidência em 2012, endossou a ideia de que reduções nos impostos podem de fato reduzir o deficit.

Isso me conduz novamente aos que só agora encaram de frente a insensatez do Partido Republicano, que não tem enfrentado nenhuma pressão para que demonstre responsabilidade ou racionalidade -e, dito e feito, ele endoidou. Se você está surpreso, significa que você foi parte do problema.

ARTIGO ORIGINAL DE PAUL KRUGMAN NO NEW YORK TIMES DE HOJE.



COLUNA NO GLOBO - MIRIAM LEITÃO

Eles não podem


Se você é um sobrevivente das crises dos anos 80 e 90, pense no que seria impensável naquela época: que os Estados Unidos entrassem numa corrida contra o tempo para evitar o calote da dívida. Seria visto como improvável o que aconteceu ontem: o presidente alertar para o risco de o mercado exigir juros maiores por desconfiarem do Tesouro, e a China mandar os Estados Unidos terem juízo.

Naquelas décadas, crises sacudiram países latino-americanos e asiáticos. O norte continuou sendo os Estados Unidos. Seria impensável que a maior economia do mundo estivesse vivendo os dias que está vivendo: esta semana, o presidente Barack Obama fez dois pronunciamentos, seguidos de entrevistas, na Casa Branca, com repórteres fazendo perguntas que nos pareceria delírio naquele tempo em que eles tinham o monopólio da força.

No dia 16 de maio, os Estados Unidos atingiram o limite do endividamento permitido. Depois disso, passaram a gastar os recursos extraordinários que vão acabar no dia 2 de agosto. É urgente, imprescindível e dramático que eles cheguem a um acordo. O cenário político polarizado pelo clima eleitoral antecipado tem impedido que republicanos e democratas concordem com um plano de ajuste fiscal que permita a aprovação de um novo teto para a dívida.

Obama começa a admitir a possibilidade de um plano B, que está sendo negociado por alguns moderados de cada lado, com uma mudança de procedimento de votação no Congresso ou uma nova permissão provisória de elevação da dívida. Mesmo assim, disse que continuará sendo ambicioso e negociando um amplo acordo de ajuste fiscal que inclua corte de gastos e aumentos de arrecadação.

Os republicanos dizem que não aceitam aumento de impostos. Parece justo. Mas o que está realmente em jogo? Os democratas querem cortar os benefícios da indústria de petróleo, dos jatos executivos e do etanol de milho. Os republicanos pedem cortes nos gastos de assistência médica, o Medicare. Por trás do discurso anti-impostos, está a defesa dos interesses dos muito ricos e um ataque a uma das plataformas políticas de Obama.

As agências de risco assistem a tudo perplexas. Seus manuais estabelecem que, diante de uma situação como essa, o país teria que ser rebaixado. A Standard&Poor’s e a Moody’s colocaram leves sinais negativos. A Fitch nem isso, porque acredita que tecnicamente é um “risco de evento”. Sendo assim, quando acontecer, não haverá uma pequena descida, mas sim uma queda dramática. Os Estados Unidos são há 70 anos a melhor nota de risco, referência a partir da qual as outras dívidas são classificadas. Seus títulos são classificados como o mais seguro dos papéis, AAA. Hoje, o país balança no abismo do conflito político. Se no dia 2 os Estados Unidos não tiverem um acordo e não pa$títulos vencendo, as agências teriam que derrubar a classificação para D: o pior dos riscos.

É por isso que as agências, bancos e analistas dizem que não vão considerar essa hipótese porque “eles não seriam tão loucos”. E se forem? Parafraseando James Carville, marqueteiro político de Bill Clinton, pode-se dizer para os avaliadores de risco econômico: “É a política, estúpidos”.

Os republicanos têm pouca chance de vencer a eleição de 2012. Mesmo com a crise econômica, o alto desemprego, o presidente Barack Obama é o mais provável vencedor da eleição. Os republicanos se dividiram, com uma ala de extrema direita. Alguns deles podem sim estar pensando no quanto pior melhor.

A hipótese parece absurda, mas quem avalia risco tem que pensar nela. A estridente ala conservadora dos republicanos pode querer jogar os Estados Unidos — e o mundo — na pior crise financeira de que se tem notícia. Esperemos que, como pediu a China, os Estados Unidos tenham juízo neste fim de semana, em que as negociações continuarão, e cheguem ao acordo de corte de gastos, aumento de receitas, eliminação de isenções fiscais.

Se o impensável acontecer, todos os fundos de pensão, que são os maiores investidores do mundo, teriam que sair dos títulos americanos, porque eles são obrigados por lei, estatuto ou regulação a só aplicar em papéis seguros. As empresas e bancos americanos também seriam rebaixados. A China seria afetada porque é o maior detentor individual de dívida americana. O Brasil é o quarto. É uma espiral negativa em escala mundial.

Por isso, é mais fácil acreditar que eles não serão loucos a esse ponto e neste fim de semana vão chegar num acordo. Esse conflito político não é inédito. Aconteceu em 1995, quando o líder dos republicanos era o extremado Newt Gringrich e o presidente era Bill Clinton. Mas o impasse não chegou tão longe. Depois disso, Clinton fez um ajuste orçamentário ajudado pela onda de crescimento. Agora, duas crises e http://www.blogger.com/img/blank.gifduas guerras depois, a situação fiscal americana se deteriorou extremamente. Na entrevista de ontem, um jornalista perguntou se Obama estava otimista com a possibilidade de um acordo. “Eu sou otimista, não lembra da minha campanha?” Parece que agora o bordão deve mudar. Em vez de : “Sim, nós podemos”, está na hora de fazer os republicanos dizerem: “Não, não podemos”.

Artigo original de Miriam Leitão, no Globo de hoje.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Como Nixon, Reagan e Bush ajudaram a criar a Fox News para manipular informações e turbinar o Partido Republicano


Lucia Guimarães - O Estado de S.Paulo

NOVA YORK

O escândalo do grampo telefônico, que já fechou um tabloide britânico de 168 anos, fez evaporar $ 2,6 bilhões das ações da News Corp. nos Estados Unidos e encosta perigosamente no governo do primeiro-ministro David Cameron na Inglaterra, tem implicações transatlânticas. Deve interessar a qualquer habitante de uma praia onde Rupert Murdoch venha a desembarcar, agora que o tapete de boas-vindas na Inglaterra está sendo puxado sob os pés do empresário.

Desde a década de 70, o memorando "Um Plano para Colocar o Partido Republicano no Noticiário" dormia na Biblioteca Nixon. O sono do documento presidencial foi interrompido pelo repórter americano John Cook, do site Gawker. O texto resume a visão do então assessor de Richard Nixon, Roger Ailes, para incentivar uma cobertura pró-Casa Branca. Ailes é hoje apontado por observadores políticos como o homem mais poderoso do Partido Republicano. Mas ele não preside o partido e sim uma rede de TV.

Desde 1996, Roger Ailes é fundador da rede Fox News, de Rupert Murdoch e seu passado como assessor/propagandista de Nixon e de George Bush, pai, está intimamente ligado ao DNA da rede que Murdoch fundou sob o lema "Justa e Equilibrada".

"O jornalismo de TV é visto com maior frequência do que as pessoas leem jornais, ouvem rádio, mais do que as pessoas leem ou acessam qualquer outra forma de comunicação", dizia Ailes, no memorando dos anos 70. "A razão: As pessoas são preguiçosas. Com a TV, você só senta - assiste - e ouve. Outros pensam por você."

Sob a inspiração de Ailes, a Fox News se tornou o mais visto canal de notícias no cabo americano, humilhando a inventora do formato, a CNN, com um pseudojornalismo de opinião.

Com a vitória de Barack Obama, em 2008, Ailes viu uma oportunidade para investir pesado num elenco de talking heads de direita e contratou um punhado de aspirantes à presidência, de Sarah Palin (não declarada) a Mike Huckabee (desistiu de concorrer, encantado com a afluência permitida pelo salário na TV).

O público americano deve à Fox a campanha bem-sucedida para identificar o plano do seguro-saúde do governo Obama como uma conspiração para destruir a liberdade individual. O circo Tea Party teve sua lona erguida com grande impulso do canal. A TV a cabo americana exibe outras opiniões - a MSNBC é a casa dos liberais de esquerda -, mas nada se compara à sistemática campanha de desinformação oferecida pela Fox. Ironicamente, a cara da oposição ao envenenamento da mídia americana por Rupert Murdoch é um comediante baixinho de New Jersey. Jon Stewart, em 2009 identificado como a mais confiável fonte de jornalismo numa pesquisa de opinião americana, pode ser visto, no seu programa de segunda a quinta no canal Comedy Central, satirizando o elenco da Fox.

O governo Obama atravessa um verão pantanoso de desemprego resistente às conhecidas medidas de estímulo, a batalha pelo déficit e um desencanto dos democratas pelas promessas não cumpridas. Murdoch e seus asseclas farejam sangue e são mestres em cortejar os porões do descontentamento da classe média branca, desviando atenção para temas como religiosidade e conservadorismo social.

Nos Estados Unidos, a News Corporation de Murdoch conseguiu crescer graças ao apoio político para dobrar várias leis de restrição ao monopólio na mídia. Murdoch é dono de dois jornais diários e uma TV no mercado nova-iorquino, algo impensável há 30 anos.

Não é justo igualar a subserviência de todos os primeiros-ministros ingleses, de Margaret Thatcher a David Cameron, ao magnata australiano que odeia o establishment inglês, à relação de presidentes americanos, com exceção de Bush filho, com a Fox.

Se ainda é possível eleger um presidente americano sem o sinal verde do conglomerado de Murdoch, não há dúvida de que seu poder sobre a direita americana faz do sinistro magnata australiano uma força destrutiva para a democracia.

Em Londres, há comentaristas confiantes de que o extraordinário trabalho do jornalista Nick Davies, o tenaz investigador do escândalo dos grampos, no Guardian, desfechou um golpe decisivo contra a influência corruptora de Rupert Murdoch na vida política britânica. Em Manhattan, onde o empresário de 80 anos é visto com frequência desmontando mais uma tradição do jornalismo na sede de seu novo trem elétrico, o Wall Street Journal, há sinais crescentes de alívio.