quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Livro 'Pontes e idéias - um engenheiro fourierista no Brasil', que inclui o Diário de Valthier, será lançado hoje, no Teatro Santa Isabel.
Uma página da história do século 19 será concluída hoje, no Recife. É o lançamento do livro Pontes e ideias - Louis-Léger Vauthier, um engenheiro fourierista no Brasil, da professora Claudia Poncioni. Fruto de pesquisas que a autora empreende na França e no Brasil desde 2004, a obra traz para os dias de hoje um personagem que viveu no Recife de 1840 a 1846 e morreu em Paris, em 1901. O livro completa e amplia os trabalhos pioneiros de Gilberto Freyre, Diário íntimo do engenheiro Vauthier, 1840-1846 (lançado em 1940) e Um engenheiro francês no Brasil (1960).
Vauthier viveu no Recife de 1840 a 1846, época em que fez o projeto do Teatro de Santa Isabel e realizou uma série de obras e ações nas áreas de arquitetura, urbanismo e administração pública. Formado pela École des Ponts et Chaussées, tradicional escola de formação de engenheiros na França, foi contratado pelo presidente de província de Pernambuco, Francisco de Rego Barros, o então Barão da Boa Vista. Doisanos após sua chegada tornou-se chefe da Repartição de Obras Públicas, com amplos poderes sobre todas as obras executadas em Pernambuco - para os dias atuais seria uma espécie de supersecretário de infraestrutura. Entre outras coisas foi responsável pela construção de estradas e pontes, formulação da primeira planta do Recife e elaboração de um projeto urbano destinado a servir de base ao plano diretor da cidade. Em Pernambuco Vauthier também foi pioneiro na introdução de autores do chamado socialismo romântico, pré-marxista, trazendo para cá obras de pensadores como Charles Fourrier (1772-1837).
"A marca que o francês deixou foi de tal porte", afirma Claudia Poncioni, "que hoje é voz corrente no Recife dizer que, depois de Maurício de Nassau, Vauthier foi o estrangeiro que mais influenciou a capital pernambucana". Poncioni nasceu no Rio de Janeiro e hoje é professora do departamento de Estudos Lusófonos da Universidade Sorbonne Nouvelle, na França. O livro que ela lança agora no Recife foi publicado ano passado, na França, pela Michel Houdiard éditeur, com 491 páginas. A edição brasileira é da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) e tem 559 páginas.
O título do livro inspira-se em definição de Freyre, que chamou Vauthier de "engenheiro de pontes e ideias", responsável pela transmissão de técnicas de engenharia e arquitetura, mas também de doutrinas. Estabelecer pontes para a transmissão de ideias foi também uma tarefa desempenhada pela própria Poncioni, que entre a França e o Brasil esteve à frente de ampla mobilização para tirar Vauthier do esquecimento.
Contou para isso com o apoio de instituições e estudiosos. Entre as pessoas que contribuíram para sua pesquisa estão Guillaume Saquet, documentalista da École des Ponts et Chaussées, em Paris, e Georges Orsoni. Juntamente com a autora eles classificaram mais de 2.500 documentos sobre Vauthier, existentes em microfilmes e microfichas, fotografias digitais, livros, manuscritos, recortes de jornal, sites e páginas de internet. O Diario de Pernambuco também participou deste movimento, publicando dois cadernos especiais sobre o engenheiro francês: "A história que a França desconhece e o Brasil esqueceu", de 13 de outubro de 2005, e "Vauthier em Paris", de 3 de janeiro de 2010. Poncioni menciona no livro a contribuição do Diario e reproduz uma das páginas do jornal sobre Vauthier.
Pontes e ideias é composto de três partes: a primeira traz os diários que Vauthier escreveu no Recife e o ensaio "Casas de residência no Brasil", também de autoria dele e hoje bibliografia indispensável para quem estuda a arquitetura brasileira do século 19. Os dois textos têm notas explicativas escritas por Poncioni; a segunda compõe-se de um capítulo biográfico dele e de toda sua produção intelectual catalogada; e a terceira parte traz textos e notas de Gilberto Freyre publicados nas edições da obra dele de 1940 e 1960.
O capitulo "Notas para uma biografia", que consta da segunda parte do livro de Claudia Poncioni, tem 71 páginas que refazem toda a trajetória de Vauthier antes de vir para o Recife e depois do seu retorno para a França, em 1846 - dois períodos que não constavam dos estudos de Freyre. Ao retornar para a França ele teve uma vida marcada por peripécias: foi eleito deputado, envolveu-se num levante contra o presidente (e mais tarde imperador) Luís Bonaparte, foi preso (passou cinco anos na prisão), cassado, exilado e voltou a França só em 1861. Elegeu-se vereador em Paris (renovando seguidamente o mandato de 1871 até 1887) e concorreu (sem sucesso) ao Senado. "Notas para uma biografia" é um capítulo que está pedindo para ser ampliado e virar livro autônomo - trabalho que a autora e seus pesquisadores têm todos os requisitos para executar.
Serviço
Lançamento: Pontes e ideias: Louis-Léger Vauthier, um engenheiro fourierista no Brasil (Cepe),de Claudia Poncioni
Quando: Hoje, às 19h
Onde: Teatro de Santa Isabe
Quanto: R$ 60 (livro)
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Excelente a dica do livro para a história do Recife. Aqui no Rio de Janeiro foi pelas mãos do Prefeito Pereira Passos que a nossa cidade ganhou um toque parisiense, tendo como marco principal o grande boulevard, ou melhor a Av. Centenário, hoje conhecida como Rio Branco, a avenida dos negócios cariocas, com seu vai e vem incessante de carros e pessoas.
ResponderExcluirNa querida Cidade Maravilhosa, inúmeros prédios também foram construídos sob a influência da arquitetura francesa. Foi a chamada Belle Epóque.
Um grande abraço!
Perfeito, querido Adinalzir. Pereira Passos foi o nosso 'Haussman', o disciplinador do espaço urbano que queria garantir um aspecto de civilização e ao mesmo tempo, controlar as manifestações sociais.
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