terça-feira, 22 de novembro de 2011

Elio Gaspari - Um plano para 2012: ler sobre a China


Quando chega o fim do ano surgem os projetos: emagrecer, fazer exercícios, segurar as compras. Para 2012 algumas pessoas podem acrescentar outro: entender o que está acontecendo com a China. Quem gosta de opinar sobre assuntos internacionais e acha que não precisa, pode fazer um teste: liste cinco cidades chinesas e cinco políticos chineses vivos.

Tratando-se da segunda economia do mundo e do maior parceiro comercial do Brasil, vale a pena. O problema é como começar. Na primeira confusão entre Guangzhou e Fuzhou, ou entre Hu Jintao (o atual presidente) e Xi Jinping (seu provável sucessor), a pessoa desiste. É duro, mas, visto da China, o Brasil, onde Rousseff é Dilma e Guido é Mantega, também não é fácil.

Para quem quiser remediar a lacuna, o livro "Sobre a China", do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, é um bom remédio. Na realidade, são três livros num volume. O primeiro é um passeio pela história e cultura do Império do Meio. Ensina coisas assim: "Os chineses nunca produziram um mito de criação cósmica. Para eles, o universo foi criado por eles". Essa civilização que se vê como o centro do mundo passou por 150 anos de humilhações, com fomes e guerras que consumiram 100 milhões de pessoas. Quem tiver saído dessa parte confundindo Zeng Guofan com Wei Yuan, não deve se preocupar. No século 20 ficará mais à vontade.

O segundo livro conta a essência da virada ocorrida nos anos 70, quando Mao Zedong aproximou-se do Ocidente. Como Kissinger foi um personagem relevante nesse jogo, sua narrativa é rica, até quando reconhece seus erros, produzidos pela ignorância. Por exemplo: como os vietcongs jamais se renderiam, eram invencíveis e Mao falava sério quando dizia que não tinha medo de uma guerra nuclear.

A terceira parte de "Sobre a China" é a mais valiosa. Kissinger, que fez mais de 50 viagens a Pequim, constrói um cenário no qual a incompreensão do Ocidente e o nacionalismo chinês serão fatores de futuras tensões. Quando o companheiro Obama vai à Ásia acertar alianças estratégicas e militares, sabe que estimula o receio do Império do Meio de se ver cercado pelos "demônios estrangeiros".

Ao final do livro, como um mandarim, Kissinger lembra a situação europeia de 1907, quando um diplomata inglês fez um trabalho sobre as relações com a Alemanha. Nessa época, os dois países eram grandes parceiros comerciais, e tudo o que o kaiser fazia era visto em Londres como uma ameaça estratégica. Em Berlim havia o mesmo sentimento em relação aos ingleses. Sete anos depois, começou a Grande Guerra. Kissinger apresenta esse risco com extrema cautela. Seu interesse é mostrar que existe o perigo do "desfecho infeliz".


Você pode baixar e ler o 1° capítulo AQUI, no sítio da Editora Objetiva.

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