quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Centenário da eleição Dantas Barreto vs Rosa e Silva


No dia 5 de novembro de 1911, Pernambuco assistiu a uma das eleições mais acirradas de sua história, com a disputa entre o general Dantas Barreto e o conselheiro Rosa e Silva, que controlava a política estadual há dezesseis anos. Rosa e Silva formou-se advogado pela Faculdade de Direito do Recife e construiu a sua carreira política na última década do império pelas mãos do conselheiro João Alfredo, de quem chegou a ser ministro da justiça, servindo ao gabinete que apresentou e aprovou o projeto da abolição da escravidão. Convertido à república, criou o Partido Republicano em Pernambuco e foi eleito vice-presidente de Campos Sales no período 1898/1902. Construiu uma hegemonia inconteste sobre a política estadual, onde indicou e elegeu quatro governadores: Correia de Araújo, Gonçalves Ferreira, Sigismundo Gonçalves e Herculano Bandeira. Em 1901, Rosa e Silva comprou o Diário de Pernambuco, que ao mesmo tempo em que serviu à consolidação de sua influência, abrigou um grupo de jovens colaboradores que teriam papéis relevantes na cultura e política nacional nas próximas décadas, a exemplo de Gilberto Freyre e Assis Chateaubriand.

A eleição do marechal Hermes da Fonseca para a presidência em 1910, entretanto, mudou as relações entre a presidência e os estados, já que aquele alimentava o projeto de centralizar o poder e reduzir a força das oligarquias, ‘salvando’ os estados do atraso que estas representariam. Sua política ‘salvacionista’ provocou conflitos, intervenções e substituições de vários grupos políticos pelo país nos dois anos seguintes. Aqui, o general Dantas Barreto, natural de Bom Conselho e veterano de Canudos, vislumbrou a oportunidade de disputar o governo depois que foi nomeado Ministro da Guerra, passando a ser o depositário das esperanças de vitória das oposições. A candidatura de Dantas ganhou as ruas e forçou o conselheiro a disputar pessoalmente as eleições. Na campanha dantista, viagens pelo estado, comícios, o envolvimento das classes médias e populares com promessas de mudanças políticas e econômicas. Na defensiva, a tática rosista envolveu manobras políticas no melhor estilo da Primeira República. Rosa e Silva orientou a renúncia do governador Herculano Bandeira, provocando a posse de Estácio Coimbra no comando do estado e a antecipação do pleito, reduzindo o tempo da campanha.

Consumada a eleição, Rosa venceu por uma margem de cerca de mil votos, mas foi derrotado em Recife. Como era comum, seguiu-se a batalha pelo reconhecimento dos resultados na Comissão Verificadora de Poderes, formada por deputados e com o papel de confirmar a licitude das apurações e resultados. Dantas não acatou a derrota e denúncias de fraudes corriam de lado a lado, mas o controle da máquina política por Rosa e Silva deveria garantir a ratificação dos resultados. Seguiram-se vários episódios de violência pelo estado, inclusive com o empastelamento do Diário de Pernambuco. Apoiados pelo presidente da república, pelo exército e grupos populares, os dantistas tomaram o Recife. Estácio Coimbra, sem condições de resistir, retirou-se para seu engenho em Barreiros. No dia 18 de dezembro, uma Assembleia Legislativa com apenas um terço dos seus representantes efetivou o reconhecimento das eleições, anulando diversas urnas, invertendo os números e dando a vitória a Dantas Barreto, que tomou posse como novo governador.

Um comentário:

  1. Histórias interessantíssimas da política brasileira... um memorável período de acirradas disputas oligárquicas na história do Brasil.
    Abraços! :-)

    ResponderExcluir