quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Joaquim Barbosa, o nosso Collin Powell? Artigo meu na Folha de PE de hoje.


Na década de 1990, George Bush nomeou o general Collin Powell para a chefia do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA e em 2000, George Bush Jr. nomeou-o Secretário de Estado, tornando-se Powell o primeiro negro a ocupar aqueles postos, responsáveis pela formulação, execução e administração da política externa dos EUA. Filho de imigrantes jamaicanos, veterano da Guerra do Vietnã, Collin Powell encarnava o padrão do ‘sonho americano’, do ‘self-made-man’ e seria capaz de conquistar parte dos eleitores negros simpáticos ao Partido Democrata, mas, o Partido Republicano não aceitou que ele fosse o protagonista em uma chapa presidencial. Pior para o partido, que não compreendeu a revolução demográfica pela qual os EUA estavam passando e foram perdendo largas fatias do eleitorado para os Democratas. Negros, hispânicos, jovens, mulheres, imigrantes, foram todos ignorados pelos Republicanos, que se apresentavam defensores do liberalismo e individualismo extremados, da desregulamentação dos mercados e do estímulo à economia através de cortes de impostos para os ricos! A história e a demografia atropelaram o Collin Powell e o Partido Republicano.

Da mesma forma que o general, Joaquim Barbosa construiu uma carreira ancorada em uma sólida formação acadêmica e competência profissional e ambos ascenderam ao maior dos cargos que ocuparam pelas suas ligações políticas e condição étnica, porque os altos cargos a que chegaram são de indicação pessoal dos presidentes da República. É preciso articulação e lobby para ser indicado, não bastando apenas o mérito pessoal. Barbosa representou, em 2003, a vontade do governo Lula de apresentar-se como o primeiro a indicar um negro para o STF, da mesma forma que, em 2000, o governo Fernando Henrique quis apresentar-se como o primeiro a nomear uma mulher, a ministra Hellen Gracie. Além da absoluta competência e rigor profissional de ambos, pesou o desejo dos presidentes de criar um fato social e político. Semelhantemente, tanto as Forças Armadas quanto a Suprema Corte integram o Estado, mas possuem uma dinâmica e força próprias, proporcionando uma visibilidade ímpar para aqueles que os comandam. Desta forma, começam as especulações sobre uma possível candidatura do ministro Joaquim Barbosa a presidência da República.

Se o ministro decidir enveredar por este rumo, tem vantagens e desafios a superar. O descrédito da classe política, que suas excelências, infelizmente, insistem em alimentar, leva parte da sociedade a um sentimento de que a política só poderá caminhar bem se for conduzida por alguém que não seja político. Essa é uma contradição que pode beneficiar o ministro. Há, ainda, não um fator demográfico, mas um fator geracional que lhe pesa favorável. Um percentual alto de eleitores nasceu depois de 1985, cresceu sabendo que o presidente é eleito, e não percebe como algo essencial a participação do candidato na luta contra a ditadura civil-militar. O ministro poderia apresentar-se como um bom representante para estas novas gerações, que buscam uma nova pauta política para o Estado, que pretende a estabilidade econômica, democrática e a distribuição de renda, mas também reivindicam mais seriedade no trato da coisa pública.

 Entre os seus desafios, o primeiro seria a escolha de um partido, pois nosso sistema não permite candidaturas independentes. Um nó difícil, pois são poucos os partidos que não protagonizaram denúncias e escândalos de corrupção recentes, além de vários deles já possuírem seus próprios pré-candidatos à presidência. Um partido pequeno ou um novo colocariam Barbosa diante do grande problema do presidencialismo brasileiro, que é governar sem um partido majoritário no Congresso. Há ainda, a construção de um programa que contemple a questão econômica e a pauta de reformas sociais, mas o marketing do candidato poderia resolver isso, apresentando-o como o aperfeiçoamento da democracia brasileira, associando Fernando Henrique à estabilidade, Lula às reformas sociais e ele, Barbosa ao respeito e ao bom cuidado das práticas políticas e da gestão do Estado. Quem sabe, poderia dar certo. Enfrentaria, ainda, claro, a atual presidente Dilma, pois os números macroeconômicos do país podem não ser os melhores, mas o cidadão comum se preocupa com o desemprego, e este está em queda, aliado a um controle razoável da inflação e à força dos programas sociais. Joaquim Barbosa poderia ser um candidato bastante competitivo, embora a história esteja sempre à espreita, pronta para surpresas, como as que foram reservadas aos Republicanos e ao general Powell.

Um comentário:

  1. Esse blog demora a ser atualizado, mas quando seu editor resolver fazer isso, sempre sai coisa boa...rs. Mas, sinceramente, dá vontade de não comentar por conta dessas letrinhas difíceis que você nos impõe a identificar...rs...kkkk

    Só discordo um pouco, para não perder o costume...rs...de teres pontuado a questão do "primeiro negro", "primeira mulher", coisa e tal. Isso só reforça o preconceito. Mas, infelizmente, é assim que é. Estás correto. Tanto FHC como Lula se apressaram em fazer essas nomeações "espetaculares", como se tanto mulher quanto o negro fosse, de fato, diferentes.

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