segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Lula e Dilma, FHC e Serra: 'colheram o que plantaram", por Kennedy Alencar.

Apesar de alguns erros derivados de certa soberba e de percalços sobre os quais não teve controle, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva executou com sucesso uma estratégia que traçou no começo do segundo mandato: eleger Dilma Rousseff como sucessora.

Foram eixos da estratégia não cair na tentação do terceiro mandato e apostar num plebiscito sobre os seus oito anos de governo contra os oito anos de Fernando Henrique Cardoso.

Enquanto a oposição e parte da imprensa acreditavam que Lula queria o terceiro mandato e fazia jogo de cena para esperar o melhor momento de mudar a Constituição, Dilma Rousseff ficou livre para aparecer nas vitrines positivas do governo. Se ela tivesse sido apontada candidata lá atrás, auxiliares como Erenice Guerra teriam entrado bem antes na alça de mira.

No entanto, dando o devido crédito ao chefe, Dilma ficou livre para ter o controle de todas as bandeiras positivas do governo, como conduzir as mudança da lei para explorar o pré-sal, gerenciar o programa de habitação "Minha Casa, Minha Vida" e virar a "mãe" do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

No teste de fogo da crise internacional de 2008/2009, Lula foi aprovado. Esse teste foi bem mais duro do que o rigoroso ajuste fiscal e monetário de 2003. A oposição cobrava de Lula capacidade de gerenciar a crise. E ele foi bem. Fez um rápido e certeiro diagnóstico da crise financeira internacional e de como o Brasil deveria enfrentá-la. O maior acerto: medidas para reforçar o mercado interno como forma de atravessar o deserto e compensar a queda da economia global.

Nessa estratégia vitoriosa, é justo registrar a importância da aliança PT-PMDB. Na crise do Senado, em 2009, a oposição tentou criar um racha na relação entre peemedebistas e petistas. A ideia era transformar o Senado, Casa na qual Lula sempre teve dificuldade, num bunker oposicionista. Mas Lula não jogou ao mar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em troca, obteve uma aliança formal com todo o PMDB, o que garantiu uma máquina política ainda mais expressiva no país e um tempo de propaganda no horário eleitoral gratuito para vender Dilma na hora decisiva.

O bom momento econômico favoreceu a tese de polarização PT-PSDB, apesar do susto com o desempenho de Marina Silva (PV-AC), que forçou a realização do segundo turno. Um taxa de crescimento de cerca de 7% neste ano fortaleceu a defesa do continuísmo, dando gás a uma candidata tirada do bolso do colete. No contexto econômico, destacaram-se ainda as políticas de reajuste do mínimo, de ampliação do crédito, de massificação de programas sociais e de incentivo a grandes grupos nacionais considerados estratégicos e amigos.

Os principais erros da campanha não comprometeram o resultado final, mas trouxeram muita tensão ao governo na virada do primeiro para o segundo turno. A campanha de marketing de Dilma demorou a perceber a sangria de votos com o debate sobre a legalização do aborto. Gente da cúpula dava como favas contadas uma vitória no primeiro turno quando já era evidente que uma segunda etapa seria inevitável. O próprio Lula se iludiu com sua alta taxa de popularidade. Entre os percalços sobre os quais não teve controle, o principal foi a doença de Dilma em 2009.

Obtida a vitória, há também uma importante lição: a realização do segundo turno e o percentual de votos dados a Dilma não autorizam uma atitude arrogante em relação aos adversários e à imprensa, mas isso será assunto de outra coluna.

*
Ninguém ganha sozinho

Num cenário de extrema adversidade política, é surpreendente a performance de José Serra. Ele disputou a eleição contra a candidata do presidente mais popular da história recente num contexto de crescimento econômico e de transformações sociais inéditas no país. Nesse sentido, é uma derrota que não envergonha o PSDB, mas o candidato cometeu o principal erro de quem deseja conquistar a Presidência: achar que poderia se eleger sozinho.

Na primeira metade de 2009, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso selou um acordo entre Serra e o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Garantidos alguns compromissos, o mineiro seria vice de Serra, que governava São Paulo naquela época.

Fiador dos compromissos, FHC testemunhou Serra rompê-los. O primeiro deles: Serra não quis participar de reuniões prévias pelo país, nas quais o PSDB ouviria seus dois pré-candidatos e depois decidiria quem disputaria o Palácio do Planalto.

Líder disparado nas pesquisas, Serra julgava a ideia uma forma de miná-lo politicamente. Mas Aécio queria uma saída para dizer ao eleitorado de Minas porque aceitaria ser vice do governador paulista. Outro compromisso era afirmar com todas as letras que, se eleito, Serra patrocinaria novas mudanças constitucionais para que Aécio fosse o próximo da fila. Pelo acordo, Serra articularia a aprovação de projetos no Congresso para acabar com a reeleição e reinstituir o mandato de cinco anos. Aécio sempre demonstrou pouca crença na capacidade de, sentado no Planalto, Serra abrir mão da possibilidade de se reeleger. Mas FHC dizia a Serra que era importante que ele se comprometesse com essas alterações a fim de tranquilizar Aécio e Minas. O final dessa história é sabido.

Entre setembro e fevereiro, a folga sobre Dilma nas pesquisas deu a Serra a ilusão de que poderia ignorar os apelos para assumir a candidatura e fazer concessões a Aécio. Ele não aceitou as cobranças do PSDB e do DEM para admitir que era candidato e montou uma estrutura de campanha centralizada e distante dos aliados.

Esticou a corda até junho para tentar obter a companhia de Aécio em sua chapa, mas estava tão fraco que não teve como enfrentar a resistência dos democratas à escolha do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para vice. Ao explicar as razões de aceitar o pouco conhecido deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ) como companheiro de chapa, Serra admitiu que a questão estava encaminhada em outro sentido, mas não havia dado certo.

A biografia respeitável, a tenacidade com a qual se jogou na disputa e a assimilação de um discurso conservador que destoa de suas próprias ideias não foram suficientes para levar o tucano à vitória. Serra quis ganhar sozinho. A exemplo de Lula, colheu o que plantou.

KENNEDY ALENCAR, NO UOL NOTÍCIAS

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Prefeitura de São Paulo (Gilberto Kassab/DEM) corta recursos para pré-escola e fecha creches.


Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo filiado ao DEM, o mesmo partido do vice de Serra e que tem uma ação no STF para acabar com o PROUNI, agora, reduz as verbas para pré-escola. REPORTAGEM NO UOL.

Apesar do deficit de 41 mil vagas, a Prefeitura de SP reservou (empenhou) apenas 36% dos recursos previstos para construir pré-escolas, informa reportagem de Fábio Takahashi, publicada nesta sexta-feira pela Folha (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL).

SP corta vaga de bebês para atender criança de 4 e 5 anos

A retenção de gastos ocorre justamente quando a prefeitura, seguindo recomendação federal, decidiu aumentar o atendimento a crianças de quatro e cinco anos -faixa atendida pela pré-escola. Lei de 2009 exige que essa etapa seja obrigatória em 2016.

Dos R$ 22,8 milhões previstos no Orçamento para este ano para construção de pré-escolas, a prefeitura empenhou R$ 8 milhões. No jargão administrativo, empenhar significa reservar verba para uma ação. Considerado o quanto já foi gasto (liquidado), a taxa cai para 9,8%.

OUTRO LADO

A Secretaria Municipal da Educação afirmou que teve de rever seu planejamento após a homologação, em julho, de norma federal que recomendou a inclusão de crianças de três anos em creches.

Até então, em São Paulo, essa faixa etária iria para a pré-escola. "Não se trata de uma escolha da secretaria. E é também mais um dos muitos elementos que compõem o planejamento desta pasta", diz a secretaria, em nota.

A prefeitura afirma ainda que a "educação infantil [creches e pré-escolas] é prioridade para esta gestão".

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Morre Nestor Kirchner, ex-presidente da Argentina, que colocou fim ao neoliberalismo que destruiu o país em 2002


Néstor Kirchner governou a argentina de maio de 2003 a dezembro de 2007, quando foi sucedido pela esposa, Cristina. Em 2009, ele havia sido eleito representante da província de Buenos Aires no Parlamento argentino e, desde maio de 2010, era secretário-geral da União das Nações sul-americanas (Unasul).

Líder do Partido Justicialista (herdeiro do peronismo) ganhou projeção nacional na função de governador da província de Santa Cruz. Em meio à profunda crise vivida pelo país no início dos anos 2000, Kirchner obteve a nomeação de seu partido e conseguiu vencer a disputa presidencial. Bastante popular, conseguiu ainda ajudar a eleger a mulher ao deixar o cargo.

Ao lado de Lula e Hugo Chávez, Kirchner era um dos líderes da centro-esquerda sul-americana que reaproximou o continente. Crítico do neoliberalismo, liderou a Argentina em reformas econômicas promovidas logo após ingressar na presidência, quando o país atravessara uma das piores crises de sua história.

Em pouco tempo, Kirchner promoveu reformas na estrutura política argentina, dominada pelos setores conservadores. Quanto à política externa, Kirchner reaproximou a Argentina dos vizinhos do Mercosul e se opôs à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA).

Kirchner era considerado a verdadeira força política por trás do governo de sua esposa, que o sucedeu após o então presidente anunciar que não disputaria a reeleição - embora tivesse altos índices de aprovação ao fim de seu mandato. Ele era tido como um provável candidato a retornar à Presidência argentina, no ano que vem.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Wagner Tiso regravou o clássico jingle Lula Lá para Dilma: agora é Dilma Lá.

Folha de São Paulo: Os vencedores da licitação da expansão do metrô feita no governo José Serra foi conhecida pela Folha seis meses antes do resultado


RICARDO FELTRIN
DE SÃO PAULO

A Folha soube seis meses antes da divulgação do resultado quem seriam os vencedores da licitação para concorrência dos lotes de 3 a 8 da linha 5 (Lilás) do metrô.

O resultado só foi divulgado na última quinta-feira, mas o jornal já havia registrado o nome dos ganhadores em vídeo e em cartório nos dias 20 e 23 de abril deste ano, respectivamente.

A licitação foi aberta em outubro de 2008, quando o governador de São Paulo era José Serra (PSDB) –ele deixou o cargo no início de abril deste ano para disputar a Presidência da República. Em seu lugar ficou seu vice, o tucano Alberto Goldman.

O resultado da licitação foi conhecido previamente pela Folha apesar de o Metrô ter suspendido o processo em abril e mandado todas as empresas refazerem suas propostas. A suspensão do processo licitatório ocorreu três dias depois do registro dos vencedores em cartório.

O Metrô, estatal do governo paulista, afirma que vai investigar o caso. Os consórcios também negam irregularidades ou “acertos”.

O valor dos lotes de 2 a 8 passa de R$ 4 bilhões. A linha 5 do metrô irá do Largo 13 à Chácara Klabin, num total de 20 km de trilhos, e será conectada com as linhas 1 (Azul) e 2 (Verde), além do corredor São Paulo-Diadema da EMTU.

VÍDEO E CARTÓRIO

A Folha obteve os resultados da licitação no dia 20 de abril, quando gravou um vídeo anunciando o nome dos vencedores.

LEIA A MATÉRIA COMPLETA NO SÍTIO DA FOLHA DE SÃO PAULO.

sábado, 23 de outubro de 2010

O tempo de um partido no governo não é critério de autoritarismo.


A quantidade de mandatos seguidos por um partido na condução de um país ou governo não tem nenhuma relação entre o autoritarismo ou uma 'redução' ou 'perigo' para a democracia. Vejamos os casos concretos. Franklin Roosevelt ganhou quatro eleições seguidas nos EUA [1932, 1936, 1940 e 1944], morreu [naturalmente] no início do quarto mandato e os democratas ainda elegeram o sucessor [depois os Republicanos conseguiram aprovar uma lei que previu a limitação de uma reeleição apenas para o presidente da república]; Margaret Tatcher governou a Inglaterra de 1979 até 1994, quando o Partido Conservador perdeu votos e a substituiu por outro primeiro ministro do mesmo partido, John Major, que ficou apenas dois anos no cargo, quando os Trabalhistas ganharam o parlamento e nomearam Tony Blair. Este, por sua vez, governou de 1998 até 2008, quando foi substituído por Gordon Brown, do mesmo partido, que perdeu as eleições este ano. Os Republicanos elegeram Reagan nos EUA em 1980, reelegeram em 1984 e emplacaram George Bush [pai] em 1988. Governaram 12 anos seguidos, quando a crise econômica levou os americanos a devolver a presidência aos Democratas com Bill Clinton em 1992.

Por outro lado, na República Velha, no Brasil, havia regularidade nas eleições [4/4 anos], mandatos sem reeleição, parlamento eleito pelo voto direto, bem como a própria presidência da república, mas o sistema político entre 1889/1930 não pode de forma alguma ser classificada como democrático, como entendemos o termo hoje. O voto não era secreto, restrito aos homens alfabetizados, havia a possibilidade de negar posse aos eleitos que não apoiassem o governo, durante largos períodos os governantes decretaram Estado de Sítio, etc. É isso. Um abraço.

Programa Consensus debate as eleições 2010 (4/4).


Programa Consensus debate o primeiro turno das eleições 2010. O voto dos evangélicos, o clientelismo, religião e política, os desafios dos eleitos. Com o pr. Roberval Goes, bispo Robinson Cavalcanti e os professores Hely Ferreira e Cláudio Souza.

Programa Consensus debate as eleições 2010 (3/4).


Programa Consensus debate o primeiro turno das eleições 2010. O voto proporcional, distrital, a crise de representação, a fragilidade partidária brasileira. Com o pr. Roberval Goes, bispo Robinson Cavalcanti e os professores Hely Ferreira e Cláudio Souza.

Programa Consensus debate as eleições 2010 (2/4).


Programa Consensus debate o primeiro turno das eleições 2010. O futuro dos novos governos, as eleições em Pernambuco, a derrota de Jarbas e Marco Maciel, a vitória de Eduardo, Humberto e Armando. Com o pr. Roberval Goes, bispo Robinson Cavalcanti e os professores Hely Ferreira e Cláudio Souza.

Programa Consensus debate as eleições 2010 (1/4).


Programa exibido em 10 de outubro com o pr. Roberval Goes, bispo Robinson Cavalcanti e os professores Hely Ferreira e Cláudio Souza. No primeiro bloco, as eleições nacionais, as perspectivas políticas, as eleições em Pernambuco.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Concurso para professor do IFPE, antigo CEFET, em Recife e interior.

OInstituto Federal de Pernambuco (IFPE), formado pelo antigo Cefet e agrotécnicas federais, irá abrir inscrições para seleção público para preenchimento de 19 vagas permanentes de professores. As oportunidades são para os campi Afogados de Ingazeira, Barreiros, Caruaru, Garanhuns, Ipojuca, Vitória de Santo Antão, além da Diretoria de Educação a Distância (DED), localizada no Recife. As inscrições serão realizadas no período de 28 de outubro a 4 de novembro apenas pelo site www.ifpe.edu.br.


Campus de Caruaru encontra-se entre os que estão com vagas abertas para contratação de professores permanentes. Foto: Juliana Leitão/DP/D.A Press - 26/8/10
Os salários iniciais variam entre R$ 1.6545 e R$ 2.130. A esses valores são ainda acrescentados a retribuição por titulação apresentada que pode ser de especialização, mestrado ou doutorado, além de benefícios como auxílio alimentação, auxílio transporte e ressarcimento de plano de saúde. As vagas são para diferentes áreas. Podem disputá-las licenciados em letras, matemática e computação. Também há oportunidades para graduados em administração, engenharia elétrica, agronomia, engenharia química, engenharia naval, engenharia agrícola, entre outros.

A taxa de inscrição varia de R$ 41 a R$ 53, de acordo com a área pretendida. Os que não puderem pagá-la poderão solicitar isenção. Para isso, é necessário acessar o site do IFPE no dia 25 ou 26 de outubro, quando será disponibilizado um requerimento para ser preenchido pelo o candidato. Só pode solicitar a isenção quem possuir o Número de Identificação Social, ou seja, quem for cadastrado no CadÚnico.

Outras informações podem ser obtidas no edital, disponível no site da instituição, ou ainda pelos telefones (81) 2125-1641, (81) 2125-1693 ou (81) 2125-1774. O IFPE prepara um outro concurso para a área administrativa. O edital, que deverá ser publicado até o final deste ano, trará 22 vagas. As oportunidades serão para assistente administrativo, auxiliar administrativo, técnico em contabilidade e técnico em laboratório.

EDITAL COMPLETO NO SÍTIO DO IFPE.

Bispos mergulham na política.

Receita tucana para as crises.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Celso Antonio Bandeira de Mello, eminente mestre constitucionalista, professor de várias gerações de juristas, recomenda o voto em Dilma.

Manifesto de professores universitários em defesa da educação pública e pró Dilma já tem mais de 2000 assinaturas.

Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.

Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das Universidades federais.

Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.

Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública. Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.

Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se. As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas. Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.

No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.

Antonio Candido, USP
Alfredo Bosi, USP
Fábio Konder Comparato, USP
Joel Birman, UFRJ
Carlos Nelson Coutinho, UFRJ
Otávio Velho, UFRJ
Marilena Chaui, USP
Walnice Nogueira Galvão, USP
Renato Ortiz, Unicamp
Laymert Garcia dos Santos, Unicamp
Dermeval Saviani, Unicamp
Laura de Mello e Souza, USP
Maria Odila L. da Silva Dias
Sergio Miceli, USP
Luiz Costa Lima, Uerj
Flora Sussekind, Unirio
João José Reis, UFBA
Antonio Torres Montenegro, UFPE
Regina Beatriz Guimaraes Neto, UFPE
Ruy Fausto, USP
Franklin Leopoldo e Silva, USP
João Adolfo Hansen, USP
Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ

CONFIRA A LISTA COMPLETA AQUI.

Eleições 2010 e as bonecas matrioscas

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Artigo de Durval Muniz sobre Dilma: Um convite à reflexão. Uma comparação entre Lula/FHC, Celso Furtado/FHC, Dilma/Serra.


Durval Muniz de Albuquerque Júnior é doutor em História, professor da UFRN e da pós graduação em história da UFPE e o atual presidente da Associação Nacional de História, ANPUH. Este texto é uma aula de história magistral sobre a trajetória recente do Brasil. Selecionei alguns parágrafos para esta postagem e você pode lê-lo integralmente AQUI. Vale a aula extraordinária, que compara as matrizes explicativas dos governos Lula e FHC através da análise das teorias econômicas e políticas de Celso Furtado e Fernando Henrique e as diferenças entre Dilma e Serra.

"Como sou historiador, e este profissional tem como ofício ir ao passado para justamente olhar o presente de outra perspectiva...". Durval Muniz de A. Junior

Um convite à reflexão: Dois Projetos Radicalmente Diferentes

Estamos num momento decisivo da vida brasileira, onde qualquer omissão pode ser imperdoável. Eu, que faço parte da parcela ainda privilegiada de brasileiros que conseguiu concluir um curso superior e fazer uma formação pós-graduada, não ficaria com a consciência tranqüila se não viesse a público, neste momento, com o uso daquilo que sei fazer: refletir, pensar, para tentar contribuir no sentido de dar um mínimo de racionalidade a um processo eleitoral
(...)
Na crítica à política externa do governo Lula mal se disfarçam a xenofobia e o racismo de nossas elites que sempre se julgaram brancas e sempre tiveram os olhos voltados para os Estados Unidos e para a Europa, onde na verdade sempre sonharam em viver; a política externa de FHC, onde o presidente falava inglês e o chanceler como um lacaio tirava os sapatos para passar nas alfândegas dos países desenvolvidos mostra bem isso);
(...)
Como sou historiador, e este profissional tem como ofício ir ao passado para justamente olhar o presente de outra perspectiva, vou lançar mão de alguns traços da história do pensamento econômico no Brasil para tentar convencê-los de que no dia 31 de outubro estarão em confronto dois projetos radicalmente diferentes de país...
(...)
Emir Sader já perguntou perplexo uma vez: o que pensa o Serra? Ninguém sabe, ninguém viu. O hoje elevado a condição de elite das elites, o guia das “massas cheirosas”, segundo a Catanhede, que se saiba nunca teria concluído os cursos de graduação que diz ter e sua Tese de Doutorado, da qual voltarei a falar, anda desaparecida da única biblioteca em que está depositada (por que será que o vaidoso Serra nunca traduziu e trouxe a lume sua obra máxima?).

Ele passou oito anos no governo FHC, exercendo diferentes cargos, sempre aparecendo na mídia como estando à esquerda no partido, como crítico de Malan, como alguém que criticara o Plano Real, mas jamais escreveu algo sobre isto e no governo permaneceu.

Como gestor de mandatos nunca concluídos (...)

Mas como dizia é no pensamento de FHC que devemos buscar as raízes das propostas pessedebistas para o país. É na Teoria da Dependência(...)

A Teoria da Dependência surge no início dos anos sessenta, diante da crise crescente apresentado pelo modelo nacional-desenvolvimentista de matriz cepalina que esteve na base da política econômica de governos tão díspares e que a realizaram com ênfases distintas como os governos Vargas, Juscelino Kubsticheck e João Goulart.

Quando uma vez na Presidência da República, Fernando Henrique se propôs a enterrar a era Vargas, ele estava realizando o projeto da Teoria da Dependência que criticava algumas formulações básicas do pensamento cepalino e neoclássico,
(...)
É inegável que as formulações econômicas, mas também sociais e políticas do governo Lula têm a sua matriz no pensamento nacional-desenvolvimentista cepalino, mais precisamente no pensamento do maior economista brasileiro, o paraibano Celso Furtado, por quem Lula sempre teve uma admiração quase devocional.
(...)
É preciso ainda chamar atenção para dois aspectos relevantes: o atual Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que foi mesmo dentro do PT identificado como um nacional-desenvolvimentista, dedicou seu trabalho de doutorado a estudar o pensamento de Celso Furtado e, é preciso lembrar ainda, que Dilma Rousseff começou a sua militância administrativa no Rio Grande do Sul, ligada a um governo do Partido Democrático Trabalhista, encabeçado por Leonel Brizola, muito próximo das formulações nacional-desenvolvimentistas.

A grita e o arreganho de dentes, sem pejos, da mídia neoliberal no Brasil se deve ao fato desta identificar em Dilma não uma mera continuidade, mas um aprofundamento da visão nacional-desenvolvimentista em seu governo em relação ao governo Lula.
(...)
Pecado mortal de Furtado e de Lula, ambos olharam para o Nordeste, ambos são filhos deste rincão enjeitado do país, onde medra uma das piores elites políticas desta terra, ambos não abriram os olhos no planalto paulista, onde luminares como Otavinho Frias e a família Mesquita distribuem a agenda para o país,
(...)
Sabemos que desde que FHC aderiu às teses neoliberais, pois estas já estavam em germe em seu pensamento, como deixaremos claro a seguir, a crítica a esta centralidade do Estado, de seu papel como indutor de políticas cambiais, fiscais, de investimento, de distribuição de renda, de combate às desigualdades regionais e sociais, que alavancassem um desenvolvimento endógeno do capitalismo brasileiro, será a pedra de toque do discurso econômico do PSDB, por isso mesmo se aliando a um partido de extrema direita, o antigo PFL, agora DEM, com vagas formulações liberais, um baluarte na luta pelos interesses dos grandes grupos privados nacionais e internacionais em detrimento dos interesses nacionais.

Desmontar o Estado, desmontar as empresas duramente criadas e conquistadas à duras penas com a acumulação de capital realizada pelas políticas nacional-desenvolvimentistas passou a ser a obsessão dos governos do PSDB, tendo em Serra um dos maiores entusiastas.
(...)
A diferença matricial entre as duas posturas gira em torno da possibilidade de um desenvolvimento capitalista, porque é disso que se trata,
(...)
Furtado mantém a opinião que o processo de desenvolvimento, em países como o Brasil, deve ter como motor as forças econômicas, sociais e políticas nacionais, que saibam inserir o país na economia global, mas tendo seus interesses estratégicos sempre à frente e bem definidos.
(...)
A Teoria da Dependência de FHC nunca acreditou na possibilidade de se fazer o desenvolvimento sem que a direção do processo se desse nos próprios países centrais do sistema.
(...)
Esta é uma diferença crucial entre Dilma e Serra; Dilma acredita que nosso povo, se estimulado, se receber crédito, se receber salário, se lhe forem dadas condições educacionais e de renda, tem condições de construir um país soberano, capaz de traçar suas próprias estratégias, sem que para isso tenha que se fechar ao mundo, mas tendo uma visão alargada do próprio mundo, não vendo nele apenas o Norte, mas enfatizando a diversificação dos mercados e das relações políticas, diplomáticas e culturais, enfatizando as relações Sul-Sul, tornando o Brasil um país capaz de ajudar a impulsionar o desenvolvimento dos seus vizinhos e países assemelhados ou em níveis piores de pobreza e desenvolvimento humano.
(...)
Para concluir, pois já me estendi além da conta, para que vocês meditem bem sobre o passo que darão ao entregar o país a um homem como José Serra, que a mídia que ele financia com dinheiro da educação, enquanto trata os professores de São Paulo a cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo, diz ser o mais competente e preparado, convido vocês a ir ao Youtube e assistir um vídeo de uma entrevista dada por Serra ano passado, quando do auge da crise econômica, ao jornalista serrista e de conhecida história de adesão à extrema direita Boris Casoy, onde Serra aparece indisfarçadamente eufórico, com a possibilidade que a crise viesse acabar com a popularidade do governo Lula e facilitar as coisas para ele este ano.
(...)
Mas esta entrevista explicita o desastre que teria sido se ao invés de Lula, de Mantega, das formulações furtadianas que eles representam, fosse o ninho tucano e sua teoria da dependência (dependência ao Norte, diria o pândego e arguto Paulo Henrique Amorim) que estivessem no poder.
(...)
Façam isso, por favor, assistam a este vídeo, e se ainda assim quiserem entregar o Brasil a Serra, que o façam, mas minha consciência estará tranqüila, tentei fazer um esforço em alertá-los. Eu e o Brasil esperam que mudem de opinião e ele não vença, se mesmo assim ele vencer vou torcer para que eu não venha a me divertir tanto quando encontrá-los, quanto me diverti meses após a posse de Collor, vendo os meus colegas coloridos que haviam votado no caçador de marajás e não no sapo barbudo com medo de perderem suas poupanças, reduzidos a CR$ 50,00 em suas contas. Assim como Collor, Serra sempre faz o que diz que não vai fazer, tenham cuidado.

Abraço carinhoso a todos e um feliz e refletido voto para vocês e para o Brasil.

VOCÊ PODE VER A ENTREVISTA NO YOUTUBE: PARTE 1, PARTE 2, PARTE 3.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chico Buarque, Fernando Morais, Leonardo Boff e Eric Nepomucemo lideram um manifesto e um evento a favor de Dilma.



Lula, Dilma e dona Maria Amélia Buarque de Hollanda, em seu aniversário de 100 anos, no último mês de janeiro, mãe de Chico Buarque e esposa de Sérgio Buarque de Holanda, maior historiador brasileiro e fundador do PT.

Liderados por Chico Buarque, Leonardo Boff, Emir Sader e Eric Nepomuceno, um grupo de artistas e intelectuais divulga um manifesto em apoio a candidatura de Dilma Rousseff. O documento, que será entregue à candidata em um ato político no dia 18 de outubro, no Rio de Janeiro, defende a união de forças para garantir os avanços na inclusão social, preservação dos bens e serviços da natureza e a nova posição do Brasil no cenário internacional. Leia abaixo o manifesto.

Manifesto de artistas e intelectuais pró Dilma

Nós, que no primeiro turno votamos em distintos candidatos e em diferentes partidos, nos unimos para apoiar Dilma Rousseff. Fazemos isso por sentir que é nosso dever somar forças para garantir os avanços alcançados. Para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos, que preserve os bens e serviços da natureza, um país socialmente justo, que continue acelerando a inclusão social, que consolide, soberano, sua nova posição no cenário internacional.

Um país que priorize a educação, a cultura, a sustentabilidade, a erradicação da miséria e da desiguladade social. Um país que preserve sua dignidade reconquistada.

Entendemos que essas são condições essenciais para que seja possível atender às necessidades básicas do povo, fortalecer a cidadania, assegurar a cada brasileiro seus direitos fundamentais.

Entendemos que é essencial seguir reconstruindo o Estado, para garantir o desenvolvimento sustentável, com justiça social e projeção de uma política externa soberana e solidária.
Entendemos que, muito mais que uma candidatura, o que está em jogo é o que foi conquistado.

Por tudo isso, declaramos, em conjunto, o apoio a Dilma Rousseff. É hora de unir nossas forças no segundo turno para garantir as conquistas e continuarmos na direção de uma sociedade justa, solidária e soberana.