quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dilma e a fé cristã, por Frei Betto.


Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência. Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia".

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória - diria, terrorista - acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo. Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam. Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto...

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O DEM, partido de Índio da Costa, vice de José Serra é contra o PROUNI e tem uma ação no STF para acabar o programa.


O PROUNI MANTÉM, HOJE, 700.000 JOVENS NA UNIVERSIDADE COM BOLSAS DE ESTUDO. AS VELHAS ELITES ESCANDALIZAM-SE COM ESTA OUSADIA DO GOVERNO LULA E GOSTARIAM QUE TUDO VOLTASSE A SER COMO ERA ANTES.

COLUNA DE ELIO GASPARI, NA FOLHA DE SÃO PAULO, 29/08)

Em benefício da qualidade do debate eleitoral, é necessário que seja esclarecida uma troca de farpas entre Dilma Rousseff e José Serra durante o debate do UOL/Folha. Dilma atacou dizendo o seguinte: “O partido de seu vice entrou na Justiça para acabar com o ProUni. Se a Justiça aceitasse o pedido, como você explicaria essa atitude para 704 mil alunos que dependem do programa?”

Serra respondeu: “O DEM não entrou com processo para acabar com o ProUni. Foi uma questão de inconstitucionalidade, um aspecto”.

Em seguida, o deputado Rodrigo Maia, presidente do DEM, foi na jugular: “Essa informação que ela deu é falsa, mentirosa”.

Mentirosa foi a contradita. O ProUni foi criado pela medida provisória 213 no dia 10 de setembro de 2004. Duas semanas depois o PFL, pai do DEM, entrou no Supremo Tribunal Federal com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a iniciativa, e ela tomou o nome de ADIN 3314.

O ProUni transferiu para o MEC a seleção dos estudantes que devem receber bolsas de estudo em universidades privadas. Antes dele, elas usufruíam benefícios tributários e concediam gratuidades de acordo com regras abstrusas e preferências de cada instituição ou de seus donos.

Com o ProUni, a seleção dos bolsistas (1 para cada outros 9 alunos) passou a ser impessoal, seguindo critérios sociais (1,5 salário mínimo per capita de renda familiar, para os benefícios integrais), de acordo com o desempenho dos estudantes nas provas do Enem. Ninguém foi obrigado a aderir ao programa, só quem quisesse continuar isento de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, PIS e Cofins.

O DEM sustenta que são inconstitucionais a transferência da atribuição, o teto de renda familiar dos beneficiados, a fixação de normas de desempenho durante o curso, bem como as penas a que estariam sujeitas as faculdades que não cumprissem essas exigências.

A ADIN do ex-PFL está no Supremo, na companhia de outras duas e todas já foram rebarbadas pelo relator do processo, o ministro Carlos Ayres Britto. Se ela vier a ser aceita pelo tribunal, bye bye ProUni.

Quando o PFL/DEM decidiu detonar a medida provisória 213, sabia o que estava fazendo. Sua petição, de 23 páginas, está até bem argumentada. O que não vale é tentar esconder o gesto às vésperas de eleição.

Em 1944, quando o presidente Franklin Roosevelt criou a GI Bill que, entre outras coisas, abria as universidades para os soldados que retornavam da guerra, houve políticos (poucos) e educadores (de peso) que combateram a iniciativa.

Todos tiveram a coragem de sustentar suas posições. Em dez anos, a GI Bill botou 2,2 milhões de jovens veteranos nas universidades, tornando-se uma das molas propulsoras de uma nova classe média americana.

O ProUni não criou as bolsas, ele apenas introduziu critérios de desempenho e de alcance social para a obtenção do incentivo. Desde 2004 o programa já formou 110 mil jovens, e há hoje outros 429 mil cursando universidades. Algum dia será possível comparar o efeito social e qualificador do ProUni na formação da nova classe média brasileira. Nessa ocasião, como hoje, o DEM ficará no lugar que escolheu.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O plebiscito que Serra pretende.

A campanha começou com Lula propondo a discussão dos programas e práticas de governo dele e de Fernando Henrique Cardoso. Reclama-se muito do tamanho da popularidade de Lula e da fragilidade institucional dos partidos políticos no Brasil, mas o país está ficando bom neste ponto. Em que pese a fraqueza dos partidos, desde FHC o eleitor confronta-se menos com personalidades e mais com um programa, senão de governo, pelo menos de ação governamental. Foi assim quando se diz que FHC foi eleito duas vezes na esteira da estabilização da moeda e de Lula, reeleito e propondo a continuidade de seu modelo, estabilidade econômica, Estado mais forte, uma rede de programas sociais e descentralização das obras de infraestrutura.

José Serra, temeroso da comparação do "governo Lula" com o "governo FHC" planejou a comparação de biografias. Neste ponto, o primeiro retrocesso da campanha. Ao contrário da discussão dos governos, o cotejo de 'biografias', para atingir a única conclusão na visão serrista, de que ele próprio seria o único "salvador da pátria". Regressamos ao personalismo e ao messianismo, que foi encarnado com plenitude por Marina Silva. Ao afirmar que governaria 'com os melhores do PT e do PSDB' fazia uma confissão: estava só. Será que os pastores concordariam, aliás, com Gabeira como ministro da Educação? kkkkk. Bem, do exterior não poderia mesmo, porque sequestrou o embaixador americano em 1969 e, ele sim, não pode entrar nos EUA. kkkkk. Quanta ironia.

Agora, a campanha de José Serra, devidamente ancorada na Folha de São Paulo, no Estadão e na Veja, pretendem fazer o que for possível para eliminar de vez qualquer risco de uma discussão política, da realização do debate de políticas públicas, qualquer vestígio da existência de um espaço público e laico. Tentarão a todo custo transformar o pleito do próximo dia 31 num plebiscito. Não aquele proposto por Lula, moderno, avançado, de escolher entre duas formas de governar. Mas um plebiscito reacionário, fascista, destruidor da política como espaço de discussão da coisa pública. Querem focar apenas em um debate rasteiro sobre uma forma ingênua de abordar questões de ordem pessoal e moral. Não é desse plebiscito que o país precisa.

Cristianismo e política, por Artur Leonardo Gueiros Barbosa


DO BLOG DO LUIS NASSIF.

De modo a contribuir para o esclarecimento do relativamente desconhecido "mundo evangélico", envio texto publicado em 03 de outubro no Jornal do Commercio (PE) e no boletim dominical da maior Igreja Presbiteriana do Recife. O presbiterianismo no Brasil tem três igrejas principais, a IPB (Ig. Presb. do Brasil), a mais antiga e de maior representação; a IPI (Ig. Presb. Independente), fruto de um racha com a IPB, ocorrido no início do séc. XX, e a IPU (Ig. Presb. Unida), formada a partir de membros que saíram ou foram expulsos da IPB num período (1954-74) conhecido como "Inquisição sem fogueiras" (recrudescimento da corrente fundamentalista conservadora na igreja nacional). Nesta época, líderes e jovens mais progressistas e promissores foram excluídos, como o escritor Rubem Alves, o sociólogo Waldo César (Paz e Terra) e o Antropólogo Rubem Cesar Fernandes (Viva Rio). Uma das consequencias hoje é o alto grau de alienação, excepcionado por pequenas ilhas de reflexão e crítica.

Cristianismo e Política, por Artur Leonardo Gueiros Barbosa

O Evangelho, o senhorio de Cristo, se espraia por todos os aspectos de nossas vidas. Tudo pode e deve ser utilizado pelo cristão como instrumento de graça, como materialização do amor: um sorriso, um email, um olhar, um blog, um livro, um tweet, um abraço, um olá e, da mesma forma, a política. Ela nada mais é do que a ferramenta na qual as relações de poder se estabelecem; não se restringe a voto, candidatos, congresso etc, mas abrange o nosso dia-a-dia, nossas decisões, nossos posicionamentos.

O partido de Cristo é o Reino, seus valores são o parâmetro, e o objetivo final é a glória de Deus. Num estado democrático, a política é o instrumento pelo qual se dão as maiores e mais abrangentes transformações para o país. Toda e qualquer demanda ou pressão exercida pelos diversos atores sociais tem, necessariamente, que desembocar na política institucional para que tome forma legal atingindo, assim, todos os cidadãos. Como servos do Altíssimo, deveríamos buscar desenvolver um maior interesse pela política, explorar seu potencial como instrumento de transformação da realidade, refletindo os valores de Deus na sociedade.

A política deve ser cuidada pelos cristãos, aperfeiçoada, bem utilizada, e não, desdenhada. O fato de candidatos e partidos caírem em erro, não deveria nos surpreender; não temos nenhuma ilusão quanto ao estado de total depravação do homem e à luta contínua contra o pecado que tenazmente nos assedia. Pelo contrário, nossa relação com Deus - ao expor nossas fraquezas - nos impulsiona a aperfeiçoar a política, de maneira a dificultar que a ganância, a vaidade e o egoísmo humanos tenham espaço nas estruturas econômicas e sociais, gerando fome, miséria e dor. Nosso relacionamento com o Pai deve nos mover para políticas públicas que corrijam a vil miséria que insulta os céus, caso contrário, as pedras continuarão clamando, e o Senhor continuará usando outros para realizar a tarefa que nos foi endereçada. Multipliquemos, pois, o talento que nos foi confiado. Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

Preocupamo-nos mais com as conseqüências - aborto e união homossexual, por exemplo - do que com as causas - objetização da mulher na mídia, desagregação familiar, tráfico de seres humanos, qualidade dos programas de TV, desigualdade e opressão no campo e na cidade, exploração no trabalho, impostos injustos, juros bancários extorsivos, destruição da natureza etc. Enquanto Corpo de Cristo, temos que ser a materialização do amor de Deus na sociedade que nos cerca (na qual deveríamos estar inseridos), mostrando através das boas obras - “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” -, que Deus se importa e que tem um plano melhor para o mundo. O Eterno exige que identifiquemos o mal (Informa-se o justo da causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber. Pv. 29:7) e o combatamos, onde quer que este se manifeste, poispraticar a justiça é alegria para o justo, mas espanto, para os que praticam a iniquidade. Pv 21:15

Aborrecer o mal e colocar-se como prumo na construção de uma sociedade mais justa (Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos... Is 10:1,2.) e mais amorosa (O lobo habitará com o cordeiro,...; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará.Is 11:6) é um papel do qual não podemos nos furtar, e para o qual precisamos cultivar senso crítico e discernimento, fundamentais para a compreensão e a prática do Evangelho. A falta destes costuma gerar uma fé supersticiosa, cheia de medo, de dogmas e de autoritarismo, distinta da fé dinâmica vivida e pregada pelos reformadores (Ecclesia reformata semper reformanda).

Quando a igreja não tem discernimento histórico do seu papel, do que se passa no mundo, das correlações de força, das relações de causa e conseqüência, quando falta profecia (Pv 29:18), ela se afasta do pleno testemunho de Cristo. A Palavra e a história mostram que nem sempre a presença da igreja indica a presença de Jesus. Os tristes exemplos das igrejas segregacionistas no sul dos EUA e na África do Sul, bem como as igrejas que apoiaram e deram suporte aos golpes militares na América Latina revelam isto. Se temos hoje dificuldade em entender nosso papel e compromisso diante da injusta realidade brasileira, a resposta se encontra em parte na nossa própria história eclesial, que sepultou, a duros golpes, o pensamento crítico e a reflexão, fazendo com que os erros do passado se tornassem os dogmas que engessam a compreensão e transformação do presente. Cabe-nos trazê-los (crítica e reflexão) à vida novamente, para que o Senhor nos guie pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Pois em Cristo, um outro mundo é possível.

Artur Leonardo Gueiros Barbosa é Administrador e membro da Igreja Presbiteriana das Graças, no Recife.

http://twitter.com/arturgueiros

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A diferença entre receber votos e mobilizar eleitores.


A diferença entre receber votos e mobilizar eleitores

Do blog de Jose Roberto de Toledo (Estadão)

Marina Silva (PV) teve 19,6 milhões de votos para presidente. É um marco, um fenômeno, um fato inédito -e tantos quantos jargões jornalísticos se queira lhe atribuir. Mas há uma diferença abissal entre os eleitores que a candidata derrotada do PV consegue mobilizar e a votação que recebeu.

Marina permaneceu na faixa de 10% do eleitorado durante quase toda a campanha e a pré-campanha. Só cresceu aos 40 minutos do segundo tempo, graças, principalmente, ao voto de eleitoras evangélicas de baixa renda que desistiram de votar em Dilma Rousseff (PT) ao descobrirem sua posição passada (e do seu partido) em favor da legalização do aborto.

As pesquisas mostram que o eleitor de Marina está mais para Frankenstein do que para um conjunto harmônico. Uma parte é jovem, estuda na USP e celebra o discurso ambientalista de sua candidata. Desses, muitos se declaram agnósticos ou mesmo ateus. A outra face desse mesmo eleitorado é conservadora, tem baixa renda e baixa escolaridade, e optou por Marina não pelo conservacionismo, mas por o conjunto de dogmas religiosos embutidos na fé evangélica que ela professa.

Como se comportarão esses dois grupos de eleitores no segundo turno entre Dilma e José Serra (PSDB)? Qual o poder de influência de Marina sobre eles?

As evangélicas que abandonaram a canoa de Dilma dificilmente voltarão ao seu barco, salvo, por assim dizer, um milagre. Seus pastores têm provavelmente mais influência sobre elas do que a candidata do PV.

Em tese, Marina exerceria mais influência sobre o lado “Discovery Channel” de seu eleitorado. Mas esses são eleitores descontentes com a política tradicional, com a bipolarização entre PT e PSDB, com a organização de cima pra baixo dos grandes partidos. Estarão eles dispostos a seguir uma guia na hora de escolher o “menos pior” entre os dois presidenciáveis remanescentes?

Soma-se à fluidez da base de apoio da candidata verde um partido que não se beneficiou em nada da votação de sua representante. Manteve a mesma representação de irrelevantes 2% das cadeiras da Câmara dos Deputados.

Por esses motivos, é mais razoável imaginar que, como fez até agora nesta eleição, o eleitorado de Marina decida, por diversos mas próprios motivos, em quem votará no segundo turno, sem ficar esperando uma orientação da candidata.

Arthur Virgílio, aquele que ia dar uma surra no presidente Lula, tomou uma surra das urnas. No vídeo, ele vai de leão rugidor a gatinho acabrunhado.

Arthur Virgílio, versão Mike Tyson, na tribuna do senado, ameaçando o presidente da república.

Artur [é isso mesmo, Artur, pois ele tirou o "h" e omitiu o "Virgílio" para tentar enrolar o povo do Amazonas, kkkkk], versão gatinho mansinho, depois de perder a sua vaguinha no senado para Vanessa Grazziotin, do PC do B.

Geografia do voto 2: a vantagem de Dilma, Serra e Marina em cada estado.



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Geografia do voto 1: os mapas do 1° turno das eleições de 2006 e de 2010

1° turno de 2010: Dilma x Serra x Marina. Clique no mapa para ampliar.

1° turno de 2006: Lula x Alckmin. Clique no mapa para ampliar.

Como os evangélicos e a classe média descobriram que Marina é evangélica ou o novo-velho conservadorismo.


A esquerda não entende muito bem os evangélicos. Tanto ela quanto a igreja católica pensou por muito tempo que o crescimento destes se deu por conta de questões materiais.

Os evangélicos não entendem muito bem a esquerda. Ainda vêem a questão social pela ótica da guerra fria e entendem temas como família apenas pelo viés moral.

Defender a família, seria, na visão destes líderes, falar contra os gays, contra os que traem, contra a programação da tv. Muito bem. Nada contra. O problema é que não conseguem compreender a discussão de temas como MORADIA, TRABALHO, EMPREGO, EDUCAÇÃO, COMO TEMAS QUE TOCAM À ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DA FAMÍLIA!!! COMO ALGUÉM PODE MANTER SUA FAMÍLIA SE NÃO TRABALHA, SE NÃO HÁ CASA, SE NÃO HÁ EDUCAÇÃO DE QUALIDADE DISPONÍVEL? NÃO TENHO NENHUM RECEIO DE ERRAR: ESSES TEMAS ATINGEM E DESTROEM MUITO MAIS A FAMÍLIA DO QUE OS GAYS.

São vários, os grupos evangélicos, a maioria com algum grau de dificuldade na relação com o estado laico. Os históricos assumem uma postura de separação, mas a cultura política forjada nas décadas de guerra fria e regime militar promoveram um distanciamento da esquerda e da questão social. Neste ponto, a atuação dos crentes tem se destacado no ‘auxílio individual para problemas individuais’. Os pentecostais e neopentecostais são muito pragmáticos. Perceberam desde cedo que seus líderes poderiam ser eleitos e reforçar o trabalho do próprio grupo religioso intermediando favores e relações com o Estado.

Desde as últimas eleições a consolidação da disputa nacional entre o PT e o PSDB puseram o debate em torno de comportamentos em segundo plano. A eleição de Collor foi a última em que estes aspectos apareceram nos guias. As articulações racionais e discussões programáticas em torno das realizações do governo Lula e do governo FHC, da situação da economia, debates em torno de taxas de juros, de crescimento econômico, o papel do Estado no financimento de atividades econômicas, o BNDES, o Pré-sal, a Petrobrás, a compreensão de todos de que os temas da sucessão seriam eminentemente temas públicos, da ordem pública, deixou de lado, completamente de lado, a discussão de temas de ordem moral, que são muito caros a parcela significativa dos evangélicos, pelos motivos que já explicitamos acima.

Marina Silva também ignorou solenemente os evangélicos. Sua origem cultural e política se deu na esquerda, na luta sindical e ambiental em torno das questões da floresta amazônica e em proximidade com a Igreja Católica e a Teologia da Libertação. Isso por si já daria a ela uma compreensão muito racional da separação entre Igreja e Estado e da fé como manifestação de ordem privada, diferente da política, campo de ação do comportamento público. Sua conversão ao evangelho deu-se depois de bastante adulta e de já ter toda a sua experiência política pessoal definida e encaminhada, já possuía uma jornada trilhada que a fez uma militante política de um partido de esquerda.

Caso contrário, houvesse ela passado cedo na vida pela experiência da conversão, não teria se envolvido com a luta sindical ou ambientalista, principalmente pertencendo a Assembléia de Deus, onde a atuação partidária tem sido uma missão dos homens. Marina começou sua campanha, portanto, como uma ambientalista disposta a ampliar o debate do desenvolvimento sustentável, fazendo-o uma questão nacional através da vitrine de sua candidatura. Seu primeiro programa parecia um documentário da BBC ou da National Geographic sobre a crise ambiental. Monotemática e maçante. Não era o que o país queria discutir. E ficou assim até o meio da campanha. Nada de misturar a questão religiosa, que aliás, lhe traz problemas no partido ao qual se filiou. ENFIM, UMA 'AL GORE' TUPINIQUIM.

Os evangélicos estavam mais ou menos órfãos na eleição, desde que Garotinho, seu último 'salvador da pátria' foi pego em sonoros casos de corrupção e teve seus sonhos presidenciais abortados. Ignorados pelos candidatos, sem um dos seus na disputa, parecia que caminhariam para tomar sua decisão com base na racionalidade proposta pelos principais candidatos. ALIÁS, COMO DEVERIA SER UMA CAMPANHA NUM ESTADO LAICO, ONDE SE GOVERNA PARA TODA A SOCIEDADE, NÃO APENAS PARA UM SETOR. Assim, esperava-se discutir economia, meio ambiente, saúde, educação, trabalho. Quem fez mais, quem fez menos, quem não fez, quem propunha melhor para cada área, que resposta dar ao plebiscito em curso, que julgaria os 8 anos do governo Lula.

Mas, subterraneamente, havia um caldo de cultura conservadora entre muitas lideranças que cultivam um sentimento anti-petista radical, difusamente expresso em um conjunto de reclamações de âmbito moral e em uma compreensão muito particular da sociedade, do estado laico, das liberdades individuais. Como já vimos, para estes setores não adianta nada se o governo está criando empregos, universidades, reduzindo a pobreza, enfim, porque para eles, nada disso tem nada a ver com a 'família'.

Esses setores não distinguem o espaço público do privado e possuem opiniões contrárias à ampliação de direitos públicos de homossexuais, ainda lançam mão de termos como “comunismo”, acham até que Lula é um comunista!!!, acreditam que está em curso uma conspiração para restringir o direito de culto e de liberdade religiosa (numa conspiração entre petistas, comunistas e gays!!!), acham que há uma investida do governo contra a família, reclamam contra a ‘lei da palmada’, defendem a liberdade de imprensa (quando se trata de falar mal do presidente), mas CONTRADITORIAMENTE, GOSTARIAM DE CERCEAR A MESMA IMPRENSA, quando reclamam que as grandes emissoras de televisão possuem uma programação que privilegia o ‘espiritismo’ e o ‘homossexualismo’, manifestam-se contra o aborto. Tal ‘programa’ pode ser considerado reacionário, anti-laico, não muito republicano, mas, convenhamos que cada um tem o direito de ter sua opinião sobre o mundo. E que muitas destas questões são mesmo preocupações genuínas e legítimas dos grupos religiosos.

Ocorre que o triunfalismo aliado a essa cultura política conservadora consideram o mundo da política como o campo de ação de indivíduos, de heróis da fé que acabarão com a iniqüidade. A política não é percebida como ação coletiva, de partidos políticos consolidados, de programas políticos definidos, apesar de todos também reclamarem da inconsistência dos partidos brasileiros. Assim, o voto em Marina assumiu um interessante contexto de atraso político porque representou a volta do personalismo, da idéia do 'salvador da pátria' contra a proposta de escolher entre o PROJETO POLÍTICO REPRESENTADO PELO GOVERNO FHC/SERRA E O PROJETO POLÍTICO REPRESENTADO PELO GOVERNO LULA/DILMA.

NESSE ASPECTO É EVIDENTE O MESSIANISMO DE MARINA, QUANDO, CANDIDATA POR UM PARTIDO QUE NÃO CONSEGUIU SE COLIGAR COM NENHUM OUTRO, AFIRMAVA, SEM NENHUM CONSTRANGIMENTO QUE GOVERNARIA COM 'OS MELHORES' DO PSDB E DO PT! QUANTA INGENUIDADE E QUE PROJETO DESMOBILIZADOR DA IDÉIA DE POLÍTICA COMO AÇÃO COLETIVA. O último governante que o Brasil teve assim, terminou em impeachment.

Os primeiros ruídos vieram de setores igualmente conservadores da Igreja Católica, quando um ou outro bispo associou Dilma à defesa do aborto e recomendou que os católicos não votassem nela. Ora, a candidata disse publicamente a uma platéia de religiosos católicos que o Poder Executivo não enviaria nenhum projeto ao parlamento que tratasse do tema da ampliação dos direitos dos homossexuais, da descriminação das drogas ou do aborto, independente das posições de qualquer partido, que ela governava para o país, não para um grupo. Que entendia o aborto como uma questão de saúde pública, mas que a legislação atual já dava conta do problema. De nada adiantou. Os boatos e mentiras começaram a surgir. Os evangélicos começaram a ouvi-los e, como toda boa teoria da conspiração, eles envolvem nomes verdadeiros e fatos inverídicos, pessoas e lugares reais e acontecimentos inventados. Isso é o que dá o ‘efeito de verdade’ à teoria da conspiração. Isso é o que lhe dá verossimilhança. Aí vem a internet e o potencial de comunicação e difusão de informação das redes sociais e alguns ‘pronunciamentos públicos’ de alguns pastores.

O eleitorado evangélico descobriu, então [e só então], que Marina é da Assembléia de Deus. Glórias!!! Estamos salvos!!! O Senhor nos ouviu!!! Não estamos mais destinados às mãos dos comunistas. Devem ter pensado muitos.

A própria Marina nunca havia dirigido sua cruzada ambientalista a este setor, que aliás, tem uma relação igualmente delicada com o debate do meio ambiente, considerando que esta é uma discussão amplamente dominada por visões religiosas ligadas à Nova Era, a grupos animistas e, no limite, a uma compreensão de que o Homem é um estorvo na natureza, não o ponto máximo da criação, ao qual Deus submeteu todas as coisas. Aliás, CONTRADIÇÃO DAS CONTRADIÇÕES, GABEIRA [O CRIADOR DO PARTIDO VERDE, AQUELE DA TANGUINHA DE CROCHE EM IPANEMA, NUNCA CAUSOU ESPÉCIE ENTRE OS PASTORES, QUEM SABE POR TEREM UM PRECONCEITO SELETIVO, SÓ NÃO PODE SE FOR DO PT]. Claro, que ‘submeter as coisas’ não é destruir o planeta, envolve uma discussão boa sobre a idéia da mordomia cristã, mas o tema ambiental não é um debate que os evangélicos tratem de forma alguma com facilidade.

Marina, passou, então, pragmaticamente, a alimentar esse grupo, descobrindo o potencial de votos que ele representa, apesar de, contraditoriamente, a própria Marina ir na contramão da ideologia conservadora destes setores. Foi uma aliança estranha, muito estranha. Afinal, ela defende a realização de plebiscitos para decidir a descriminação da droga, a ampliação dos casos de aborto, a legislação de união civil de homossexuais! Entre os expoentes do Partido Verde estão alguns dos mais ferrenhos militantes gays do país. Outra parte é formada por ambientalistas evolucionistas e muito próximos a idéias da Nova Era de que a natureza é quase uma entidade autônoma. Por fim, ao desprezar a vida e discussão partidária apenas reforçam o sebastianismo presente na cultura política brasileira desde o império.

domingo, 26 de setembro de 2010

A última hora


De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Neste domingo, a apenas uma semana da eleição presidencial, temos uma parte menor do sistema político, uma parte importante (mas minoritária) da sociedade e a maioria da “grande imprensa” em torcida animada para que a “última hora” faça com que os prognósticos a respeito de seu resultado não se confirmem.

É natural que todos os candidatos, salvo Dilma, queiram que alguma reviravolta aconteça. Os três partidos que dão apoio a Serra, o PV de Marina Silva, os pequenos partidos de esquerda, todos torcem pelo “fato novo”, a “bala de prata”, algo que a golpeie. Do outro lado, a ampla coligação que Lula montou para sustentar sua candidata (e que formará, ao que tudo indica, a maioria do próximo Congresso) espera que nada altere o quadro.

Hoje, Dilma lidera em todas as regiões do país, jogando por terra as análises que imaginavam que as eleições consagrariam um fosso entre o Brasil “moderno” e o “atrasado”. Era o que supunham aqueles que leram, sem maior profundidade, as pesquisas, e acreditavam que Serra sairia vitorioso no Sul e no Sudeste, ficando com Dilma o voto do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. Não é isso que estamos vendo.

Ela deve vencer em todos os estados, em alguns com três vezes mais votos que a soma dos adversários. Vence na cidade de São Paulo, na sua região metropolitana e no interior do estado. Lidera o voto das capitais, das cidades médias e das pequenas. É a preferida dos eleitores que residem em áreas rurais.

As pesquisas dão a Dilma vantagem em todos os segmentos socioeconômicos relevantes. É a preferida de mulheres e homens (sepultando bobagens como as que ouvimos sobre as dificuldades que teria para conquistar o voto feminino), de jovens e velhos, de negros e brancos. Está na frente entre católicos, evangélicos, espíritas e praticantes de religiões afro-brasileiras.

Vence entre pobres, na classe média e entre os ricos (embora fique atrás de Serra entre os muito ricos). Lidera entre beneficiários do Bolsa Família e entre quem não recebe qualquer benefício do governo. Analfabetos e pessoas que estudaram, do primário à universidade, votam majoritariamente nela.

É claro que sua candidatura não é uma unanimidade. Existe uma parcela da sociedade que não gosta dela e de Lula, que nunca votou e que nunca votará em alguém do PT. São pessoas que até toleram o presidente, que podem achar que é esperto e espirituoso, que conseguem admirar aspectos de seu governo. Mas que querem que Dilma perca.

Se, então, Dilma reúne ampla maioria no eleitorado e apoios majoritários no sistema político, o que seria a “última hora”? O que falta acontecer, de hoje a domingo?

Formular a pergunta equivale a considerar que o eleitorado ainda não sabe o que vai fazer, que aguarda a véspera para se decidir. Que “tudo pode mudar”.

É curioso, mas quem mais acredita que os outros são volúveis são os mais cheios de certezas, os mais orgulhosos de suas convicções. Mas acham que o cidadão comum (o “povão”) é diferente, que é incapaz de chegar com calma a uma decisão pensada e madura.

É fato que sempre existe uma parcela do eleitorado que permanece indecisa até o final. Já vimos, em eleições anteriores, que ela pode oscilar, saindo de uma candidatura e indo para outras. Conforme o caso, sua movimentação pode provocar resultados inesperados, como ocorreu com o segundo turno em 2006.

Mas aquelas eleições também mostram como acontecem esses fenômenos de “última hora”. Nelas, a única coisa que um quase uníssono da “grande imprensa” contra a candidatura Lula conseguiu fazer foi assustar os eleitores mais frágeis, com baixa informação e baixo interesse por política. Os dados indicam que os eleitores mais informados e com alto e médio interesse em nada foram afetados pela artilharia da mídia (assim como os sem nenhum, que nem ficaram sabendo que havia “aloprados”).

Ou seja: aquela gritaria só fez com que as pessoas mais inseguras a respeito de suas escolhas ficassem confusas, ainda que apenas por alguns dias. Mal começou a campanha do segundo turno, Lula reassumiu as rédeas da eleição e avançou sem problemas até a consagração no final de outubro. É como o título daquela comédia: “Muito barulho por nada”.

sábado, 25 de setembro de 2010

A qualidade da imprensa brasileira. Folha, UOL e Globo anunciam a morte de Tuma, que não morreu.


DO BLOG ACERTO DE CONTAS

Hoje à noite foi possível analisar o nível a que chegou a imprensa brasileira. Simultaneamente, três grandes veículos de comunicação deram o “furo” da morte do Senador Romeu Tuma, que está internado em São Paulo.

Primeiro foi o UOL, seguido da Folha e do Globo, que anunciaram a morte do Senador, e tão logo perceberam que se tratava de uma “barriga”, retiraram a “notícia” do ar. Provavelmente um chupou a falsa notícia do outro, e centenas de release blogs também publicaram o “furo”. Aliás, release blogs não faltam nos tradicionais grupos de comunicação.

Esse episódio lamentável mostra como está sendo feito o tratamento da notícia por parte da imprensa brasileira, que nem ao menos se dá ao trabalho de checar se o Senador estava vivo ou não.

Eu soube da “notícia” pelo Twitter, pois se espalhou rapidamente. Mas como no Twitter ninguém tem a obrigação de checar nada, coube aos portais o papelão de retirar a nota do ar.

O mais vergonhoso de tudo é que nem ao menos um pedido de desculpas foi ao ar. Nem do Globo, nem da Folha, e muito menos do UOL.

O pedido não deveria ser feito apenas aos leitores, mas aos familiares do Senador, que souberam da mórbida notícia dessa forma. O próprio filho, que estava em viagem pelo interior, soube da notícia por um colega, e só conseguiu saber da verdade algum tempo depois.

Mas como disse o leitor @fernandogomes69 no Twitter, “Romeu Tuma morreu, mas passa bem”.

Quem não está nada bem é a imprensa brasileira.