sábado, 22 de janeiro de 2011

Há boas notícias vindas do ENEM.


Os resultados do vestibular feito a partir do ENEM trazem duas boas novas.

Oxigenou a lista dos dez primeiros da UFPE com alunos de escolas públicas e possibilitou a presença de outros cursos que não apenas medicina ou direito. Agora em 2011, os dez primeiros lugares estão divididos entre Música, Direito, Engenharia e Medicina. Por óbvio, nada contra as escolas privadas, medicina ou direito, mas o modelo de seleção até então vigente possuía como eixo a ênfase no treinamento dos alunos para a resolução de questões de múltipla escolha, cujas disciplinas mais difíceis, por assim dizer, eram aquelas da área de exatas, com uma infinidade de fórmulas a decorar e cálculos por fazer. (Só por curiosidade, gostaria muito de ver um candidato ao curso de medicina ler, pelo menos, um trecho de uma partitura da 9° de Beenthoven ou escrever a partitura de um trecho de uma peça musical do período colonial, que são atividades que fazem parte da avaliação 'prática' dos candidatos de música, kkkkkk. Parece mesmo ser uma prova muito 'cultural' e bem pouco 'intelectual' e que qualquer um bebum de barzinho consegue fazer. kkkkk.)

As atividades 'didáticas' da 'escola pedagógica dos cursinhos' eram normalmente encaminhadas através daquilo que toda uma geração conheceu como “bizus”, dicas que facilitavam a memorização, fosse de uma regra gramatical ou de uma fórmula matemática. Em torno deste fim, o Recife viu crescer um dos maiores polos educacionais do Nordeste. O que não se traduz necessariamente em melhor nível educacional. Salas de aula com dezenas e até centenas de alunos, professores “showmans”, “aulas-show” e “aulões” com dicas de última hora e onde proliferam as músicas e quadrinhas que facilitam a tarefa da memorização deste ou daquele conceito ou acontecimento, foram práticas que, tristemente, consolidaram-se em estratégias ‘pedagógicas’ e rapidamente foram exportados para estados vizinhos. Essa é a prática constante promovida pelos mercadores da educação (e prática essa que inviabiliza qualquer trabalho mais sério por parte do professor). E dessa parte eu entendo, porque já sofri neste setor. Já dei aula para uma turma regular de 3° ano com 90 alunos! Sempre me perguntava porque os pais permitiam tal absurdo.

Assim, o que deveria ser um meio para a construção do conhecimento transformou-se rapidamente em um fim, em uma inversão perversa que comprometia o próprio processo pedagógico e de formação intelectual e profissional das novas gerações. Não acho que a educação deva ser atividade exclusiva do Estado, mas é um engodo pensar que nela não há problemas, ou que nela há muito mais qualidade do que na pública.

Quando o Enem começou a ser aplicado há alguns anos já trazia claro o seu objetivo de verificar a construção de habilidades e competências com ênfase na interdisciplinaridade, superando uma visão pedagógica em que o conhecimento é compartimentalizado em setores estanques e isolados. Efetivamente, a redução do peso das fórmulas decoradas como instrumento de resolução de questões, equilibrou a avaliação de todos os alunos, tanto os que buscavam cursos na área de exatas onde o cálculo é fundamental, quanto na de humanas. O resultado do vestibular da COVEST expressa essa nova realidade, em que pese ainda a presença de um bônus na composição da nota dos alunos oriundos da escola pública. Mas, demonstrou porque os grandes grupos empresariais da educação reclamaram tanto da decisão do MEC de criar uma seleção nacional para as universidades baseada no Enem. Resta provado que o velho modelo pedagógico centrado no treinamento do aluno para resolução de questões de múltipla escolha é insuficiente para a formação do cidadão e do profissional que o novo século precisa. Os cursinhos vendem fumaça para os pais. Não são eles que 'aprovam', que emplacam os melhores alunos! Existem algumas táticas que inflam a qualidade e o número dos aprovados.

Vejamos.
Truque n° 1: formar uma turma de 3° ano únicamente com os excelentes alunos e apertar os cabras, a fim de produzir 'material' para os outdoors.
Truque n° 2: sabem aqueles alunos 'feras' que estudam no Colégio Militar, Colégio de Aplicação, Escola do Recife? É só 'pescar' alguns deles através da oferta de bolsas integrais e tirá-los de suas escolas no 3° ano e, se não conseguir efetuar a sedução, manter o aluno em algumas 'isoladas', pelo menos, a fim de poder, claro, mostrar como o colégio aprova 'sempre os primeiros lugares';
Truque n° 3: Fazer as listas de aprovados com todo mundo que passou pelo uma hora durante o ano em alguma das turmas, seja ela qual for, isolada, integrada, especial, de última hora, da véspera, do aulão, não importa. O que interessa é que a lista venha 'gordinha', de página inteira. Essa é a mais evidente das imposturas: qualquer leitor experimente somar (kkkkk) a quantidade de alunos que os colégios dizem que aprovam na UFPE, a partir dos anúncios das páginas dos jornais! VAI FALTAR É VAGA PRA TANTO APROVADO! KKKKKK.

É importante lembrar que a Folha de São Paulo, o grupo Abril, as 'organizações' Globo, o grupo Positivo e outros, estão todos envolvidos no imenso negócio de preparação de 'apostilas', volumes únicos, 'projetos pedagógicos' para vender nas escolas.

Ainda está por se avaliar, entretanto, o impacto da possibilidade de uma concorrência nacional para as vagas disponíveis nas universidades de cada estado. De imediato, novamente ocorreu um aumento assustador da concorrência na UFRPE. Se confirmado que tal aumento deveu-se a inscrições de alunos de outros estados, haverá muitas justas reclamações e talvez até reivindicações por algum tipo de "cota estadual", afinal, as universidades possuem um papel central no desenvolvimento local. Se a demanda está tão grande, o caminho é a abertura de novos cursos, vagas e universidades, não uma simples possibilidade de mobilidade entre regiões.

Em um balanço geral, portanto, o ENEM passou bem por seu teste inicial, embora precise de evidentes ajustes na logística de operacionalidade e aplicação das provas. Erros como os que aconteceram nos últimos dois anos não podem se repetir, porque, antes de mais nada, servem de munição contra a concepção geral do próprio ENEM.

Ganharam a educação brasileira, a universidade, os alunos e professores e, algo fundamental, o MEC reforçou um projeto de educação que tem como eixos o reforço da escola pública e da qualidade do conhecimento, embora o caminho esteja ainda no começo.

4 comentários:

  1. É verdade Cláudio.. vc viu a página da Secretaria de Educação do Estado no JC? Mostrando que 8 dos 10 primeiros foram de escola pública? Muito Legal. Um abraço

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  2. Oi Ronaldo. Muita coisa está mudando na educação. Trata-se o aluno 'de escola pública' como se fosse burro, coitadinho, incapaz, quando não ele não é nada disso. Um aluno que tira 7,5 ou 7,9 ou 8,1 em um vestibular não é de forma alguma um aluno ruim. Muito pelo contrário. No caso de música, que tanto polêmica provocou, ainda faz na segunda fase uma prova de português, de história, de teoria musical e a prática de instrumento.

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  3. Concordo, professor... Se os primerios colocados que passaram em música fossem da rede provada, ngm estaria falando nada ¬¬
    E ainda tem esses colégios que dão bolsas aos alunos do CMR e querem tomar o crédito por causa da aprovação! uma pessoa que estuda lá desde a 5ª série e divulgam como aluno do GGE, Motivo, Contato... Felizmente, não precisamos fazer qualquer correção, pois a sociedade sabe que o CMR é um ótimo colégio e forma cidadãos diferenciados (e não robôs com fórmulas e bizus decorados).
    Abraço!

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