sexta-feira, 6 de agosto de 2010
65 anos da bomba de Hiroshima: o dia em que a ciência perdeu a sua inocência.
Em 06 de agosto de 1945 o mais estúpido e violento ato de covardia, cinismo, frieza e "razão de estado" foi tomado pelos EUA que se julgam emissários de Deus para civilizar o mundo moderno e a primeira bomba atômica foi jogada sobre a cidade Hiroshima. Além de um ato de guerra, representou o fim de um capítulo especial na construção da ciência moderna, que desde o século XIX pretendeu-se autosuficiente e portadora de uma "redenção racional" para a humanidade (que os positivistas chamavam de "Progresso").
Ao aliar-se ao Estado através de vínculos extremamente íntimos, Ciência e Poder (também poder político) passaram a andar lado a lado, mas ninguém percebia ainda. O intenso trabalho e a frenética corrida de físicos na Alemanha, EUA e URSS para desenvolverem novas armas e avançarem na manipulação do átomo apresentava, entretanto, uma nova realidade, em que nenhum conhecimento produzido era "neutro" como se pretendia, mas inserido e ao lado de um complexo jogo de poder político e interesses econômicos.
A briga de grupos religiosos com cientistas apenas centrada na contestação da teoria da evolução ou coisa parecida é quase uma ingenuidade, aliás, convenientemente estimulada pela direita evangélica norte-americana (fundamentalista e intolerante por natureza - no passado ela resolvia tudo mais rapidamente através de algumas fogueiras).
Muito mais grave do que qualquer teoria da evolução é um cientista que não vê limites éticos em suas pesquisas e afirma que suas pesquisas sobre átomos e bombas e armas químicas e guerras biológicas e milhares de outras brutalidades são neutras. É risível. Seu conhecimento está a serviço do poder e reafirma o velho e adâmico desejo do ser humano em ser igual a Deus, conhecendo todas as coisas. Não reconhecendo limites éticos, objetos como a bomba atômica, o agente laranja, a bomba de fósforo branco (aquela que Israel gosta de jogar em cima de cidades palestinas) continuam sendo produzidas em profusão e mais "ciência neutra" idem. Da mesma forma, "ciência neutra" vai sendo feita sob o patrocínio de gigantes transnacionais do setor de medicamentos, vinculada a uma indústria de bilhões de dólares ("o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males", lembram?).
Até 6 de agosto de 1945 uma guerra entre dois povos poderia resultar, no máximo, em muitos mortos. A partir de então, a própria espécie humana pode ser extinta. A ciência perdeu a sua inocência naquela terrível manhã.
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