quinta-feira, 22 de julho de 2010

80 anos da Revolta de Princesa e da morte de João Pessoa (1)


Em 28 de fevereiro de 1930 a vila do Teixeira, sertão da Paraíba fronteira com Pernambuco, foi invadida pelas tropas da polícia estadual do presidente João Pessoa. Era uma retaliação pelo rompimento político com o seu governo levado a cabo pelo coronel José Pereira, líder político do município de Princesa e arredores e o início da Revolta de Princesa, que se arrastaria por cinco meses até o assassinato do próprio João Pessoa.

Em meio ao conflito, no início de junho o coronel promoveu a independência do município com direito a hino e bandeira próprios. Em que pese o tom pitoresco, os fatos estão situados em meio a um intricado movimento de interesses políticos e econômicos e representaram um sinal do declínio do poder dos coronéis na vida política brasileira.

João Pessoa assumiu o governo da Paraíba em 1927 indicado pelo seu tio, Epitácio Pessoa, que já havia sido presidente da república e era o líder da oligarquia paraibana. Outro sobrinho, Francisco Pessoa de Queiroz, foi preterido na disputa e mudou-se para o Recife onde se afirmou como empresário e político, mas sem desistir de influir na vida paraibana. Ao assumir o governo, tomou medidas no sentido de reprimir o clientelismo que marcava as relações entre o governo estadual e os coronéis nos municípios.

De fato, não respeitou indicações de mandatários locais para nomeações de cargos públicos, apreendeu armas e cobrou impostos de aliados e opositores indistintamente. O tesouro estadual, por sua vez, vinha de uma severa crise do antecessor, João Suassuna, e a arrecadação era baixa. O comércio mais importante ocorria entre as regiões interioranas e os estados vizinhos, sem que as mercadorias viessem para o litoral.

O orçamento paraibano estava deficitário e João Pessoa relacionava o déficit ao clientelismo, que deixava intocáveis os aliados do governo e o comércio feito pelo interior, sem controle de taxação. O governador quis assim, forçar a realização deste comércio através da própria capital, permitindo assim uma maior cobrança de tributos. Para isso criou pedágios, barreiras alfandegárias e altas tarifas para os produtos que passassem pelas fronteiras interioranas, reduzindo simultaneamente as taxas para os que fossem dirigidos ao porto da capital.

Essas medidas desagradaram não apenas os comerciantes paraibanos, mas também a praça do Recife, cuja reação foi liderada por Pessoa de Queiroz através das páginas de seu jornal. João Pessoa feria assim, a base do compromisso coronelista da República Velha, o reconhecimento da figura do “coronel” como intermediador dos investimentos e nomeações para cargos no município, ao mesmo tempo em que procurou redefinir os eixos geográficos da economia paraibana.

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