sexta-feira, 23 de julho de 2010

80 anos da Revolta de Princesa e da morte de João Pessoa (2)


O coronel José Pereira rompeu com João Pessoa depois de este preterir o seu grande aliado, o ex-governador João Suassuana, ao compor a chapa de candidatos a deputados e a senador no estado. As relações estremecidas ficaram insustentáveis depois que a polícia prendeu alguns membros da família Dantas, também seus aliados, na invasão da Serra do Teixeira, levando vários outros a exilaram-se no Recife. João Suassuna é também conhecido por ser o pai de Ariano Suassuna. A sedição foi ainda apoiada, tácita ou diretamente, por Pessoa de Queiroz e pelo presidente de Pernambuco, Estácio Coimbra, aliado aos paulistas contra Vargas/João Pessoa.

O apoio deu-se dentro do princípio da legalidade, dificultando a passagem de armas para o governo paraibano através da retenção na alfândega pernambucana, recusando a prisão de quem havia se refugiado em propriedades deste estado, e principalmente com a imprensa local fazendo coro com as reivindicações de Princesa, considerando a oposição às medidas tarifárias e o apoio de Estácio Coimbra, presidente de Pernambuco, aos Partido Republicano Paulista (os "perrepistas"), representado por Júlio Prestes (o vice de Júlio, que não tem nenhum parentesco com o outro famoso Luis Carlos Prestes, foi o presidente da Bahia, Vital Soares).

Após vários meses de lutas, João Dantas, vivendo no Recife, teve seu escritório na capital da Paraíba invadidos pela polícia e parte dos documentos apreendidos foi publicada pelo jornal A União, diário oficial do estado. Vieram à luz detalhes de suas articulações políticas e de suas relações com a jovem Anayde Beiriz. O episódio foi transformado em um belo filme de Tisuka Yamazaki com Tânia Alves no papel de Anayde (Parahyba Mulher Macho). Em uma época em que honra se lavava com sangue, Dantas sabendo que João Pessoa estava de visita ao Recife, saiu em sua procura para matá-lo. Em 26 de julho ao final da tarde, João Pessoa tombou na Confeitaria Glória ao lado da Praça Joaquim Nabuco, no centro da cidade do Recife. João Dantas foi capturado e preso na Casa de Detenção onde também cairia assassinado durante os distúrbios da Revolução de 30. Só para não perder a tradição, a polícia atribuiu inicialmente a sua morte a "suicídio", mas fotografias descobertas anos depois mostram o corpo em posição distinta das fotos divulgadas inicialmente em 1930 e com um ferimento grande na testa, compatível com pancadas de um objeto pesado.

A morte de João Pessoa pôs fim à sedição de Princesa, que perdeu seu objetivo, mas provocou um efeito inesperado. Vargas havia perdido a eleição e as tentativas de conspiração para um golpe já haviam sido rejeitadas pelo próprio e também por João Pessoa. Este teria chegado a dizer que "preferia dez Júlios Prestes a uma revolução". O assassinato, entretanto, reacendeu os ânimos da Aliança Liberal. O crime foi apresentado como obra dos “perrepistas” e o corpo do governador levado para sepultamento da Paraíba ao Rio de Janeiro. Em cada porto no percurso, uma parada e discursos inflamados.

Em 03 de outubro Washington Luis foi deposto e a República Velha sepultada. Em Pernambuco, Estácio Coimbra e parte de seu secretariado abandonou o governo e partiu para um auto-exílio na Europa, incluindo um de seus assessores mais famosos, Gilberto Freyre. São Paulo passaria a ser governado pelo tenente João Alberto, pernambucano e rebelde do movimento tenentista (os paulistas quatrocentões nunca perdoaram Vargas por isso, como não toleram o Lula presidente). Um novo período de reformas políticas e econômicas tinha início. José Pereira fugiu de Princesa e viveu pelos próximos anos em muitas cidades e estados diferentes até ser anistiado. Princesa continua até hoje tendo como personagens principais em suas eleições os descendentes do coronel e dos que administraram como interventores do governo Vargas.

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