sexta-feira, 2 de julho de 2010
História corrigida, por Luis Fernando Verissimo.
A cidade de Durban está tentando apagar todos os vestígios do passado do mapa, literalmente. Nomes de ruas e praças que antes homenageavam reis e generais ingleses ou personalidades coloniais hoje homenageiam heróis locais. O Victoria Embamkment tem o nome de um rei negro, o próprio aeroporto da cidade se chama King Shaka em honra do rei zulu que derrotou os ingleses e seus canhões com lanças curtas e uma estratégia de ataque que até hoje é estudada nas escolas de guerra, e a Marine Parade, o calçadão à beira-mar em que antigamente passeavam os senhores brancos como em tantas outras "promenades des anglais" do mundo hoje se chama Tambo. As placas de rua mantêm o nome antigo riscado com o novo nome em baixo, para orientar as pessoas e para não haver dúvida de que a história da cidade está sendo corrigida.
Por isso eu pensei que Port Elizabeth, onde estou escrevendo isto e onde amanhã jogam Brasil e Holanda, ainda se chamava Elizabeth porque a ideia da revisão histórica ainda não tinha chegado por aqui, pois o nome seria obviamente uma homenagem à rainha inglesa. Não é. Foi dado por um dos colonizadores ingleses da região em memória da sua mulher, a quem ele também dedicou um monumento em forma de pirâmide. O mesmo guia de onde tirei isto diz que na cidade há uma estátua equestre sem cavaleiro que homenageia os mais de trezentos mil cavalos trazidos pelos ingleses para a guerra contra os boers que morreram. Em Port Elizabeth também está a mais antiga cancha de críquete da África do Sul, e a passarela à beira-mar dos ingleses se chama "The Boardwalk", como se aqui fosse uma Brighton meridional. A baía em que está localizada Port Elizabeth se chama Mandela Bay, mas algo me diz que esta é a única mudança de nome que farão por aqui por muito tempo.
Os holandeses estão fazendo treinos fechados para o jogo de amanhã. Dizem que estão treinando penáltis. Aquele jogo de Marselha em 1998 traumatizou muita gente. Os holandeses querem corrigir aquela história. Lembro do Carlos Heitor Cony abandonando seu lugar na tribuna da imprensa para não ver decisão nos penáltis. Eu fiquei firme. Suando frio mas firme. E um lembrete final para o Júlio César. Segundo as estatísticas daquele inglês que eu citei aqui no outro dia, goleiros vestidos de verde defendem mais penáltis. Verde, Júlio César!
Verde | Um lembrete final para o Júlio César. Segundo as estatísticas daquele inglês que eu citei aqui no outro dia, goleiros vestidos de verde defendem mais penáltis. Verde, Júlio César!
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Infelizmente, as vuvuzelas se calaram. Os rojões silenciaram. Os brasileiros se aquietaram. E a vida volta ao normal. Agora só em 2014!
ResponderExcluirUm grande abraço! :-(