domingo, 2 de maio de 2010

Quem é Rogaciano Leite.


Eu gosto muito de repentistas, da poesia que chamam de popular [numa evidente quase discriminação], de cordéis, enfim. Fui introduzido neste universo impressionante por JOSÉ HONÓRIO, funcionário do Banco do Nordeste e que foi meu chefe quando estagiei no banco, em Timbaúba, quando era aluno do "2º grau", hoje chamado de "ensino médio" [o tempo está passando, rsrs]. Honório é também um excelente poeta, experimentador das novas tecnologias, inclusive internet e tal, conforme todos podem conferir no link acima. Mas, apesar não sou especialista, apesar de desconfiar que algum dia desses ainda dedicarei um bom tempo para o assunto.

Portanto, o texto abaixo é de um expoente no conhecimento do universo do repente, Ésio Rafael, ele próprio também poeta de primeira grandeza. Foi copiado do site INTERPOÉTICA, excelente produção que trata do tema do repente, do cordel, dos poetas populares.

ROGACIANO LEITE, UM POETA ERUDITO E POPULAR (por ÉSIO RAFAEL, poeta e estudioso de poesia popular)

Rogaciano Bezerra Leite nasceu no Sítio Cacimba Nova, pertencente à Vila Umburanas, hoje Itapetim, Pajeú pernambucano, no dia 01 de Julho do ano de 1920. Ainda hoje, existe a polêmica, no que concerne à naturalidade do poeta. É que à época, a Comarca se localizava em São José do Egito, logo, Rogaciano, Os irmãos Batista: Louro, Dimas e Otacílio, Jó Patriota, além de outras “feras”, nasceram realmente em Itapetim, mas tudo pertencia à São José do Egito. E agora? Bom, polêmica à parte. O fato é que Rogaciano faleceu no dia 07 de Outubro de 1969, no Hospital Souza Aguiar, Rio de Janeiro. Infarto do miocárdio. Aliás, existem dois deuses da poesia Pajeuzeira, Rogaciano Leite e João Batista de Siqueira, Cancão, na concepção do seu povo. Apesar das diferenças entre eles, algumas coincidências os aproximam: poetas da mesma região, da mesma “torceira”, além da questão literária.

Assim como Rogaciano, Cancão leu Fagundes Varela, Cassimiro de Abreu, e, logicamente, Castro Alves. Aliás, alguns estudiosos querem afirmar o fato de Cancão não ter conhecido a mitologia Grega, e no entanto mostrar para o público uma intimidade que somente se explicaria através da Psicografia, principalmente para os adeptos de Kardec. Cancão estava limpando mato no seu sitio, em São José do Egito, quando de repente deu uma chuva. O poeta correu para se proteger embaixo de um pé de joazeiro. Fora quando ele se lembrou de uma Professora de Sertânia, moxotó, perto de São José, que ele mantinha uma simpatia por ela. Vejamos que prêmio que ele aprontou para ela: “És das regiões polares / A mais delicada planta / Vives igual uma santa / Entre as toalhas lunares / Os gênios dos longos mares / Dão-te atração soberana / Es a mais gentil liana / Em forma de criatura / Nasceste da ninfa pura / Da maresia indiana.

Poeta-repentista de primeira grandeza, escritor, jornalista (Gazeta do Ceará), compositor e boêmio. São alguns traços que compuseram a personalidade de Rogaciano. Funcionário do Banco do Nordeste S.A., migrou para o Rio e São Paulo entre os anos 50 e 55. Repórter de: A Última Hora e Revista da Semana. Diplomado em Literatura Clássica - 1949, Faculdade de Filosofia do Ceará. Intelectual, leitor de vários clássicos da literatura brasileira, dentre eles, os ultras românticos. “Ele era de fato um poeta Castralvino. Assim falou o Professor pesquisador – Aleixo Leite. Pois, além de ler: Fagundes Varela, Cassimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Cruz e Souza, o poeta tinha uma afeição especial por Castro Alves, como rezam os seus textos.

“Perdulário de inteligência e da imaginação”, segundo depoimento de Carlyle Martins, da – Gazeta de Notícias do Ceará. Fernando Viana da Academia Maranhense de Letras: “Ouvir Rogaciano, não é encher os ouvidos de versos, é extasiar-se da própria poesia. É confundir-se com os homens na sublimação do Belo. Isso ocorreu em 47.

Várias obras de sua autoria compuseram o acervo do poeta Rogaciano: “Acorda Castro Alves”, “Quando Eles se Encontram Novamente”, “Dois de Dezembro”, “Poemas Escolhidos”, “A Vida de Antônio Silvino”, “A Vida do Cego Aderaldo”, “Os Trabalhadores” (Excelente!); “Carne e Alma” (Este traduzido por vários idiomas). Sobre o seu livro: “A Ronda do Tempo”, (Imprensa Oficial, Natal-71), escreveu Câmara Cascudo: “Rogaciano é uma visão arrogante de Castro Alves, um Rutebeuf sem fome, e um François Villon sem frutos dono de um sitio em Messejana, e de um cavalo cadilac.

Viajando para a Europa, como componente de uma caravana sob a tutela de - Assis Chateaubriand, Embaixador do Brasil em Londres, cujo destino era uma festa em um Castelo das Ilhas Britânicas. Rogaciano se apaixonou por uma francesinha, por isso, o Pajeú, o Ceará e o Brasil, ganharam mais poesias. O homem escreveu 100 sonetos dedicados a essa mulher (100 sonetos para Ane). Diz-se que com o fim do romance, o poeta ficara desestruturado, a ponto de o caso ter sido também, a razão de seu fim.

O poeta, foi enterrado no cemitério: São João Batista, em Fortaleza, terra escolhida por ele próprio, como a de seu coração, embora que enfartado. Os “Diários Associados” foram responsáveis pelo translado do corpo. O seresteiro: Osvaldo Santiago cantou em sua cova/túmulo, a valsa: “Cabelos Cor de Prata”, da autoria do poeta, gravada por Sílvio Caldas.

Rogaciano Leite ganhou o “Prêmio Esso de Jornalismo, ao escrever matéria sobre: Areia Monazítica, na região do Amazônia. Navegava entre o “popular e o erudito”. Orador de “Mão cheia”. Todavia, quando visitava a sua terra, dava de garra de uma viola, e cantava do mesmo jeito. Ainda houve uma época em que se questionava o fato de ele não ter morrido. E que poderia estar residindo na França, com a sua francesinha, Ane. Comenta-se que o caixão onde estaria o seu corpo, não fora aberto, continuando hermeticamente fechado, até a hora em que o obscuro coveiro lacrou o túmulo com cimento e tijolo. “O Trabalhador”, “Ceará Selvagem”, ainda correm na memória do povo.

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