quinta-feira, 22 de abril de 2010

Eleições presidenciais e as capas da revista Veja. (1)

Outro dia fiz uma postagem mostrando as capas de uma Newsweek e de uma Veja que foram feitas com uma semelhança muito, mas muuuuiiiito grande mesmo. Como a Veja era de uma data posterior, poderíamos até pensar que ela foi simplesmente... copiada. rsrs. Tratava-se de Steve Jobs com seu livro eletronico (Newsweek) e de Paulo Coelho, também com um livro eletrônico (Veja). Você pode conferir AQUI o artigo.

O exemplar desta semana da Veja trouxe José Serra na capa, afinal no último sábado ocorreu o lançamento de sua candidatura à presidência em uma festa, segundo a colunista do Globo, Eliane Catanhede, muito "cheirosinha". Sobre o exemplar dessa semana, duas observações. Primeiro, foi novamente uma cópia [não há problema em ser cópia, só em não citar a fonte]. Depois, uma comparação entre o comportamento da imprensa norte-americana e brasileira em relação aos candidatos presidenciais.

Um dos articulistas do blog Acerto de Contas, Marco Bahé, publicou uma postagem no último dia 20 mostrando mais uma dessas "coincidências" com a criatividade da Veja. A revista Time publicou no ano passado uma foto com o presidente Obama que é a fonte clara onde a Veja se inspirou para a capa com José Serra. Confira abaixo.

A idéia do projeto de apresentar os presidenciáveis José Serra e Dilma Roussef que a Veja elaborou foi muito interessante. Atenção! Eu disse a idéia, não a pose de Serra, porque essa foi, como vimos, uma "fila" [rsrs]. O projeto foi assim. Na edição com Dilma na capa, a margem superior traria o nome de Serra e de um artigo escrito pelo mesmo. Na edição com Serra na capa, a margem superior traria o nome de Dilma e de um artigo escrito pela mesma. Projeto perfeito, isenção completa, jornalismo de primeira linha. Quando a revista apresentasse um, o outro assinaria um artigo e assim, todos estariam contemplados e respeitados.
Vamos, então, conferir os dois exemplares.

Não há nada de errado, em minha modesta opinião, em que a equipe editorial de uma revista ou jornal demonstre a sua preferência por este ou aquele candidato. Desde que faça isso de forma transparente, democrática, explicitando as suas razões. Afinal, o Estado contemporâneo é uma expressão da relação de forças e de grupos de pressão que representam setores da sociedade e a seção editorial o lugar apropriado para expor o pensamento do grupo que dirige o órgão de imprensa. Ativistas de todas as tendências, de todos os viés de pensamento organizam-se e pressionam os políticos por seus interesses. E a imprensa cumpre um papel importantíssimo e essencial de veiculação da informação, de formação de opinião, mas é também [relação complicada essa] um grupo empresarial.

É dessa forma nos EUA, quando, ao se aproximarem as eleições presidenciais os principais jornais e revistas publicam editoriais, repito, editoriais, explicando porque esse ou aquele candidato seria o melhor, na opinião da equipe. Assim, em meio a crise do governo Bush, o Washington Post e New York Times, durante as prévias para escolher os candidatos a presidente, afirmaram que em suas opiniões os melhores candidatos do Partido Republicano e Democrata seriam, respectivamente John McCain e Hillary Clinton. O portal UOL publicou a notícia quase como se estivesse se referindo uma excentricidade. Posteriormente, com as prévias encerradas e os os candidatos dos dois partidos definidos, publicaram novos editoriais afirmando suas preferências para Obama sobre McCain. Tudo limpo, explícito, jogo aberto. Afinal, numa sociedade moderna e com uma economia cada vez mais complexa, os jornais e revistas são grupos empresariais. Faz parte do lobby legítimo que deve existir em uma sociedade assim. Que alguns imaginam que já somos e outros que podemos ainda vir a ser [modernos e ocidentais, rsrs]. Por fim, demonstrar simpatia não é sinônimo de manipular fotografias, distorcer informações, difundir o medo, fazer terrorismo. Em momento algum deixaram de tecer críticas a Obama por conta de suas escolhas ou manipularam informações contra McCain.

No Brasil, há muito tempo os grupos empresariais que editam jornais e revistas são essencialmente familiares. As famílias Frias (Folha de São Paulo), Mesquita (Estado de São Paulo), Marinho (O Globo), Civita (Grupo Abril) são os principais. Suas revistas e jornais há muito tempo manifestam suas preferências, entretanto, não o fazem explicitamente. Sob o manto da neutralidade, de resto impossível, apresentam-se como guardiães da democracia, da liberdade, etc. etc., mas não tem o mínimo respeito com o público leitor e terminam por fazer manipulações toscas, quase amadoras, que apostam, na verdade, na imbecilização e na ignorância desse mesmo leitor. Apostam, por exemplo, que ninguém encontrará a capa original que usaram para se "inspirar". Que todos continuarão acreditando que eles são mesmo geniais em ser tão originais. Mas diante das capas de Dilma e Serra, acima, isso é apenas o mínimo.

5 comentários:

  1. Talvez o maior problema de não ser publicado, pelos jornais, um editorial com suas preferências políticas, seja a interpretação como verdade absoluta pelo público que não possui uma base crítica forte. Isso levará a uma disseminação de uma ideologia que irá marcar e cegar o eleitor na hora da escolha dos futuros governantes.

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  2. O que será que a Veja vai publicar sobre a matéria da Times de hoje : http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1984685_1984864,00.html

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  3. Até as 22 h, ela estava no mais profundo e absoluto silêncio. rsrsrs. A grande preocupação do Globo e da Folha de São Paulo foi tentar provar que Lula não haveria sido o 1° lugar da lista dos mais importantes, mas "apenas" um dos 25 mais influentes do mundo. rsrs.

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