terça-feira, 8 de junho de 2010

Fim da República do Café com Leite: o assassinato de João Pessoa e a mudança na bandeira da Paraíba.


O verbo "nego", que à época escrevia-se "négo", refere-se à decisão de João Pessoa, governador da Paraíba em 1929, de não aceitar o sucessor indicado pelo presidente da República, Washington Luís. Um acordo entre São Paulo e Minas Gerais garantia que o presidente sempre fosse de um desses Estados, em rodízio. Em 1929, o paulista Washington Luís resolveu quebrar o acerto e indicou outro paulista, o governador Júlio Prestes. Minas rebelou-se e recebeu o apoio do Rio Grande do Sul. A Paraíba, que estava esquecida pelo governo federal, decidiu também rejeitar a decisão do presidente e se unir aos mineiros e aos gaúchos, de acordo com o historiador José Otávio de Arruda Melo, da Universidade Federal da Paraíba.

Primeira bandeira da Paraíba, alterada em setembro de 1930.

João Pessoa enviou então uma mensagem ao Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, onde ficava o presidente, protestando contra a decisão. O governador não usou exatamente "nego", mas a palavra ficou como um símbolo. Pouco depois da morte de João Pessoa, assassinado por motivos passionais em 26 de julho de 1930, o governo paraibano, oposição a Washington Luis e Júlio Prestes, propôs a inclusão da palavra nego na bandeira. Ela foi definitivamente alterada em setembro de 1930, às vésperas da revolução que levou Getúlio Vargas ao poder.

2 comentários:

  1. Bandeira essa que não está mais agradando a alguns cidadãos pessoenses. Desde de 2007, há movimentos por lá para convocar a população a um plebiscito para decidir se, não só a bandeira,mas também o nome da cidade deve ser mudado. O 'Movimento Paraíba Capital Parahyba' (MPCP) foi encabeçado na câmara de vereadores do estado pelo vereador Flávio Eduardo Fuba, que reuniu escritores, artistas e poetas adeptos à idéia e formou o 'Coletivo Cultural Anayde Beiriz' para a divulgação entre a população. Alegam que a homenagem ao presidente do estado da Paraíba na época foi feita num momento de comoção social, e que não existe um consenso de que João Pessoa foi um bom político e uma boa pessoa para merecer isso tudo. Eles pretendiam trazer de volta o nome antigo da capital: Parahyba, e também a antiga bandeira que foi postada aí em cima.

    -Igor Souza/301.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom, Igor. Excelente contribuição à postagem. Eu passei o período do carnaval em João Pessoa e fui visitar o museu da ciência, lá em Cabo Branco, quando conversei com alguns outros visitantes e soube da discussão sobre a mudança de nome da capital. Na ocasião, comentávamos sobre a polêmica construção do museu, que foi projetado por Oscar Niemayer na mesma época do Parque Dona Lindu em Recife e igualmente foi cercado de reclamações sobre o valor da obra e tal. Nesse aspecto, pelo menos, eles terminaram o parque deles e com um uso muito melhor do que o daqui. Quanto aos nomes, acho uma reflexão muito séria, porque nos lembra o quanto há de político, no sentido de confronto de visões e projetos sociais diferentes, nos nomes de nossas ruas, praças, cidades. Escolher esse ou aquele nome é sempre algo cercado de significados porque tem relação com a memória coletiva de uma sociedade, aquilo que um povo pretende valorizar de seu passado. E isso é uma escolha que está intimamente ligada ao momento presente.

    ResponderExcluir