segunda-feira, 22 de março de 2010

Heresia e apostasia contra o 'deus-do-livre-mercado': Obama aprovou a reforma da saúde nos EUA

Ontem, perto da meia noite, em uma votação apertada, Obama conseguiu aprovar o seu projeto de reforma do sistema de saúde, cuja principal consequência será a extensão do atendimento a 32 milhões de americanos.

A aprovação do projeto teve a oposição integral do Partido Republicano e Obama teve que negociar e dar várias garantias a seus próprios parlamentares. A questão do aborto, por exemplo, tornou-se central porque vários parlamentares e movimentos apontavam brechas no projeto onde as verbas públicas poderiam ser utilizadas para realizá-los. O presidente reuniu a bancada ontem e garantiu a emissão de uma "ordem executiva" onde expressará a proibição desta possibilidade.

A extrema direita mostrou toda a sua fúria e teve todas as oportunidades para demonstrar o extremo individualismo em que sua ideologia odiosa é montada. Argumentos de todos os tipos alimentaram o extremismo: (a) o projeto vai aumentar impostos; (b) o Estado está intervindo na economia [intervir para salvar empresas falidas pode, para estender o atendimento de saúde não poooode!]; (c) o mercado de seguros de saúde vai ser mais controlado e será obrigado [que apostasia e heresia contra o 'deus-livre-mercado'!] a realizar um rol de procedimentos, a não recusar atendimento em caso imediato de demissão; (d) "cada família é que tem que decidir como quer fazer o seu seguro de saúde"!!! [como se todos tivessem dinheiro para escolher o seguro!!!].

A aprovação dará um certo fôlego ao governo, que vinha em embate desgastante há um ano em defesa do plano. Um debate tão crítico que fez os democratas perderem a vaga do senado representada pela cadeira do senador Ted Kennedy, falecido no fim do ano. Os republicanos ganharam a vaga na eleição suplementar no fim de 2009. O discurso de que o Estado está intervindo na economia ainda será o tom predominante na campanha para a Câmara dos Representantes (os deputados de lá) no próximo novembro. Há uma expectativa sobre o desempenho dos democratas, que hoje são maioria nesta câmara e mantém um equilíbrio tênue no senado.

O fato é que a extrema-direita americana, inflada desde a década de 1970 pela 'direita evangélica', assume um discurso raivoso e quase fascista contra todo e qualquer avanço social ou proposta de reduzir o orçamento militar ou encaminhar propostas de paz no oriente médio. Basta ver que até hoje sustentam que Obama não é americano!!! Que ele forjou sua certidão de nascimento!!! Que ele é muçulmano disfarçado!!! Que vai está preparando um golpe de estado para o final de 2010 no caso de perder as eleições legislativas!!! Que ele e Hillary Clinton são os sucessores ideológicos de Marx, Lenin e Stalin!!!

Não é à toa que sob a direção de Bush e dos republicanos o mundo foi lançado em guerras, em crises econômicas, em intolerância. Bush, os republicanos e seus apoiadores são o equivalente ocidental dos talibans e dos suicidas islâmicos.

P.S.: O SÍTIO DO JORNAL "WASHINGTON POST" APRESENTA UMA EXCELENTE LIÇÃO DE BOM JORNALISMO E DO PAPEL DA IMPRENSA NA DEMOCRACIA, QUE NÃO NOS É COMUM. O ACOMPANHAMENTO ON-LINE DO VOTO DE CADA REPRESENTANTE DURANTE A VOTAÇÃO, COM OS VALORES QUE CADA UM RECEBEU DE DOAÇÃO DE EMPRESAS DE SEGURO DE SAÚDE DURANTE A ÚLTIMA CAMPANHA ELEITORAL.

CONFIRA AQUI O WASHINGTON POST.

DETALHE ADICIONAL: NOS EUA, A CÂMARA TRABALHA NO DOMINGO À TARDE ATÉ A MEIA-NOITE! QUE INVEJA!

2 comentários:

  1. Ótimo post Profº!
    Bastante esclarecedor.

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  2. Valeu, Thiago. Seja sempre bem vindo e ponha seus comentários. Ajuda a saber sobre o que precisamos escrever.

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