sábado, 20 de março de 2010

Vaticano e pedofilia? Errado. Vaticano, celibato e padres gays.

Há uma onda varrendo o mundo nas últimas décadas em torno do "politicamente correto", isto é, aquilo que era, mas não é mais passível de se defender em público por se referir a questões que dizem respeito às famosas "minorias". Rapidamente, logo alguém começa esclarecendo que "minoria" não é necessariamente um conceito numérico, mas "político". Mulheres não são minoria numérica em canto algum, mas efetivamente ocupam menos espaços de poder que os homens. Isso torna as discussões de "gênero", uma discussão sobre "minorias". Por essa tendência, tem ficado pelo menos deselegante criticar qualquer "minoria" por qualquer motivo que seja. Mesmo que os fatos sejam claros e os erros evidentes, você pode até ser acusado de preconceito, incitador de ódios ou coisa parecida. Mas vamos ao que interessa.

Nos últimos anos, a Igreja Católica Romana [única igreja que também é um estado, o Vaticano] acumulou milhares de acusações [a maioria absoluta comprovada] de "pedofilia" e passou a sofrer subsequentes processos que resultaram no pagamento bilionário de indenizações às vítimas dos abusos sexuais. Na última semana, as acusações e apurações de responsabilidades chegaram à antesala papal, envolvendo ninguém menos que o irmão de Bento XVI, acusado de não tomar as devidas medidas para punir abusos de padres contra rapazes do coral da cidade alemã de Regensburgo [considerado o mais antigo coral europeu, talvez do mundo, já que tem mil anos] após assumir a sua direção em 1964. Durante a semana, o próprio papa, pela primeira vez reconheceu oficialmente o problema ao escrever uma carta dirigida aos fiéis católicos tratando do problema.

As palavras que não se usam na imprensa, entretanto, e que a própria igreja romana reluta em proferir é que não há problema de pedofilia no clero! Há, efetivamente, a presença de padres gays, afinal, não se lê nos jornais que os sacerdotes tenham abusado de meninas de 5, 8, 10 anos! Há, sim, casos aos milhares (cerca de 15 mil apenas na Irlanda) de padres que se relacionam com os rapazes, com os adolescentes, todos em plena puberdade, com todas as transformações que essa fase traz ao corpo tanto masculino quanto feminino.

O Vaticano evita esse aspecto espinhoso porque ao reconhecê-lo seria obrigado a questionar o motivo de ser, mesmo que involutariamente, um refúgio tranquilo para tantos gays. E isso está diretamente relacionado com a absurda exigência do celibato como condição para o ministério sacerdotal. A vida religiosa aparece como uma opção "cômoda" para centenas de rapazes que se aventuram nas práticas do homossexualismo sem que tenham coragem de fazê-lo publicamente.

Uma das maiores reformas que a igreja romana faria seria a abolição do celibato como exigência para o ministério sacerdotal. Consequências imediatas? Primeiro, a igreja atrairia milhares de homens católicos sérios, bem preparados, bons maridos, bons pais, que desejariam de coração sincero o sacerdócio, mas não o podem fazer hoje, porque sentiram-se vocacionados para a vida familiar. Segundo, a igreja traria de volta aos altares milhares de padres que se afastaram de suas funções para constituir uma família. Apenas no Brasil são cerca de cinco mil. Até lá, ao invés de boas notícias nesta área, não tenham dúvida, a igreja precisará continuar a se explicar e a desembolsar milhões de dólares para pagar indenizações a suas vítimas.

3 comentários:

  1. Cláudio, como sempre uma excelente postagem. A sua proposta para resolver o problema é muito boa e faz sentido, ou melhor, faz sentido em parte. Pois, no final você argumenta: " Até lá, ao invés de boas notícias nesta área, não tenham dúvida, a igreja precisará continuar a se explicar e a desembolsar milhões de dólares para pagar indenizações a suas vítimas." O que talvez você não tenha parado para pensar, seja exatamente esse assunto das indenizações. Isto é, a lógica é que, não havendo casamento entre os padres, isso significa que, falecendo o mesmo, não há herdeiros. Nesse caso, a Igreja Católica, mesmo diante um valor imenso que tenha que pagar pelas indenizações, por causa dos pedofilos, ainda fica no lucro.

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  2. Caríssimo José Roberto, seu trocadilho foi bom. A igreja acaba pagando um preço muito caro por sustentar a idéia do celibato. Dizem [é uma piada, claro] que ele ainda se mantém pelo seguinte: os cardeais em reunião perguntam pela pauta do dia; o secretário responde: o fim do celibato; aí um cardeal olha para o outro [a média de idade é uns 70 anos] e um deles responde: recusado! nós seguramos até agora, vamos liberar para os novos nada!

    Mas, pelo seu comentário, estou finalizando um post sobre o celibato e a visão errônea disseminada em livros de ensino médio [!] nas últimas décadas sobre sua adoção dever-se ao interesse da igreja em não dividir os seus bens com os herdeiros dos padres! A tese não se sustenta quando você reflete um pouco mais sobre o assunto.

    Também podemos pensar em uma outra boa questão que envolve o celibato, só que agora também em relação a alguns grupos protestantes e as notícias recentes de que alguns grupos religiosos estão ordenando "pastores gays". Que impacto pode ter [a médio e longo prazo] o chamamento que Roma fez aos pastores anglicanos e luteranos para serem aceitos como padres romanos, depois que alguns grupos que se identificam como tais passaram a ordenar "pastores gays"?

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  3. Acho que as discussões sobre o celibato, pedofilia e homossexualismo na Igreja, são tratadas de forma muito displicente pelo Vaticano. Na minha opinião, sendo a Igreja Católica Romana uma das maiores e mais antigas instituições regiliosas do mundo , ela deveria ter maior preocupação com a sua imagem no mundo contemporâneo, onde a religião perdeu, e muito, o seu lugar. Acredito que se essa questão fosse discutida a sério, com o intuito de se encontrar uma solução, essa solução seria encontrada.

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