quarta-feira, 31 de março de 2010

Marina Silva: "Somos construtores de um passado para os nossos filhos e netos." (2)



Escutar Marina Silva é uma aula impagável. Sua história pessoal dá-lhe a todo momento a legitimidade necessária a seu discurso. Nasceu no Seringal Bagaço, em Breu Velho, a 70 km da capital e alfabetizou-se apenas aos 16 anos, quando saiu de lá para Rio Branco [capital do Acre] onde foi trabalhar como empregada doméstica. Formou-se em história pela universidade federal do Acre aos 26 anos. Em 1988 começou sua militância política ao lado de Chico Mendes em defesa da floresta e em torno não apenas da questão ambiental, mas do desenvolvimento sustentável dos povos da floresta. Militou 30 anos no PT, onde foi senadora por dois mandatos e ministra do meio ambiente do governo Lula. No ano passado, saiu do PT e filiou-se ao PV em meio a construção de um projeto de construir uma candidatura a presidente onde a questão ambiental possa ser o eixo que aglutine todos os demais pontos programáticos.

Sobre sua saída do PT, ela afirmou que prefere ser uma erva do campo, livre e exposta ao orvalho, ao sol, a vida, do que um bonsai, cujo alcance e beleza estão sempre limitados pela tesoura. Sem dúvida, extraordinária frase, belíssimo pensamento, mas estranho no mundo da política. Afinal, Marina acha que será menos bonsai como presidenta do que como ministra? Se pensar assim mesmo, é ingenuidade, porque numa democracia, qualquer governante haverá sempre que negociar. Vide o caso da reforma da saúde de Obama e os próprios governos FHC e Lula.

Ressaltou o seu trabalho no ministério, desmentindo que tenha havido posições dogmáticas contra obras de infraestrutura. Segundo ela, a partir de sua gestão no governo Lula, as licenças ambientais passaram a ser dadas seguindo os protocolos ambientais e os cuidados sociais com as populações atingidas pelas obras. O número de licenças aumentou em relação ao governo anterior, citando inclusive um caso absurdo de um processo de licenciamento ambiental que vinha ilustrado com uma cachoeira venezuelana! E que a equipe anterior, onde a maioria era de estagiários e contratados deixou passar.

Outra tirada marcante foi quando afirmou que em sua visão nós não deixamos a terra por herança aos nossos filhos. Nós a tomamos emprestada deles. O que é totalmente diferente. No primeiro caso, vamos usufruindo e deixamos o que resta. No segundo, quem toma emprestado tem a obrigação de devolver da forma que tomou ou melhor.

Em uma das respostas dadas ao final do debate demarcou sua posição de ambientalista que não admite a hipótese de que a defesa do meio ambiente não esteja acompanhada da defesa das questões sociais, do desenvolvimento humano integral.

Para terminar, lembro que Marina é evangélica, membro da Assembléia de Deus. Mas, não mistura religião e Estado. Absolutamente diferente de algumas dúzias [infelizmente] de picaretas que aparecem no guia eleitoral de bíblia na mão pedindo votos. Sua única indicação foi na abertura, dizendo que "agradeço a Deus por estar aqui presente e a vocês por terem vindo". rsrs. Em síntese, uma aula muito boa sobre a questão ambiental, a necessidade de dar atenção integral à vida, uma proposta para a construção coletiva de um sonho, um convite para a construção de novas utopias.

Um comentário:

  1. O que quase ninguém sabe é o que Marina disse no momento que Cláudio tirou essa foto com ela. Eis as suas palavras: "Cláudio meu filho não se anime, se afaste um pouquinho... Sei que sua esposa é braba e não quero levar uma surra dela."

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